quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O DOM DO SILÊNCIO



IZA CALBO

Escuta o silêncio.
Há mil falas no que pensamos não ouvir.
Atenta...
Coloca teu sentido para apurar o não dito
O que calamos quando a vontade era a de explodir.
Ouve cada barulho que não nos é dirigido
Que é simplesmente lançado no espaço sem endereço e, muitas vezes,
por remetente desconhecido.
Tenta captar o som que não incomoda
E aquele que invade o cérebro como música que não se deseja ouvir.
Sente cada nota não tocada
Cada xingamento não dirigido
Cada fala entrecortada pelo vento
Por transeuntes desconhecidos nos passeios das ruas
Senta num dos bancos da igreja
E ouve a prece que não se diz, mas se faz
Ainda que em nada mais se creia
No dia em que aprendermos a viver em silêncio
Talvez aprendamos a escutar o que grita o nosso coração
Neste dia, apenas neste dia, seremos sábios
E quando nada mais houver para ouvir
E o coração, como nós, silenciar
É porque, neste instante, tropeçamos com a paz
Sem alarde, sem buscá-la,
Apenas porque aprendemos a ouvir o
Que somente ao coração é dado o dom de pronunciar
Sem buscar evocar belas palavras ou mentiras vãs.

26-ago-2010
IMAGEM: Web

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