sexta-feira, 28 de maio de 2010

A QUEM INTERESSAR OU PARA THAIZE




IZA CALBO

Eu só queria que você me amasse
Que não esperasse nada além
Que nunca tivesse crescido e começasse a pensar
Que entendesse
Que nunca, em momento algum
Desejei que alguém te fizesse mal
E que se o fez
Foi sem que eu tivesse consentido
Que a tua voz de mágoa
Me tira o sono
Me enruga a tez
Eu só queria que nós fossemos
Mãe e filha
Só isso
Rindo, comendo e bebendo juntas
Ainda que muitas coisas estivessem erradas...
Eu não queria ser julgada sem defesa
Condenada por você assim
Sem um ato sequer de explicação
Se fiz algum mal
Foi para tentar te proteger
Jamais imaginei
Na candura do possível PAI
A mão ambígua do inimigo.
Mas se nada disso vês!

Porque passo noites insones
A imaginar como seria
Se tivéssemos permanecido
No próprio caos?
Jamais quis te colocar no Inferno
Mas o fiz sem querer
E o demônio virou anjo
E eu... Diabo
Que assim seja então....
Não vou te pedir perdão
Porque palavras são ladras
E não quero roubar-te as certezas
Que carregas sem, ao menos,
Questionar as verdades.
Vai. Fica em paz e sem mim.
Só fiz te amar mais e mais...
Mereces-te?
Claro.
És a única com inocência neste URDIR de verdades sem
explicações.

Imagem: NET

VELÓRIO



IZA CALBO

Rompi todos os elos com o passado.
Não sou mais a que respirava há cinco segundos.
Catei as roupas carcomidas pelo tempo passado
E dei-as àquela mulher com um filho no colo
E um enorme caroço a cobrir-lhe parte da face.
Foi a pessoa mais parecida com a morte que encontrei!
Agora, neste instante, busco um caminho
Muito distante de qualquer estrada
Desvinculado disso, deste ou desta.
Se esta renovação não funcionar
Aí sim não me restará muito
Que não encontrar com a morte de fato
A que tantos clamam, mas temem
A que nos espreita, sorrateira,
E ri das vezes em que a buscamos
E ela, por querer, esquiva-se de nós.
Se morrer me aplacasse a alma;
As dores que tive;
Os julgamentos a mim impostos;
A sentença determinada sem direito a defesa;
Já a teria pego a força
Neste apartamento vazio de tudo
E, agora, até mesmo dos laços antigos
Que, em vão, tentei remendar
Contudo se a morte for a minha redenção
Pelas coisas que pratiquei e as que não
Pela cegueira que me impediu de ver fatos hediondos e alguns belos também,
Então não custa tentar.
Isso, também, chama-se livre arbítrio
E temos o direito à escolha
Entre estar ou não
Num mundo tão mesquinho, pequeno, deficiente
Nas coisas mais simples
Mundo em que os pais são apenas uma forma de chegarmos nele
E as pessoas mais fáceis de magoarmos.
Um dia sonhei ser mãe
Imaginei o ventre crescendo
E coloquei batas bordadas
À espera daquela criança
Que veio, que tive, amei, ouvi, enfeitei com esmero,
Mas que desapareceu e foi para muito longe
Tomada pelas mãos de um homem
De sorriso claro, voz firme, que até parecia um pai
Que até foi alçado ao posto de companheiro, marido, pai de outra criança linda
Que acho que ainda tenho
Homem que levou a inocência da filha que tanto quis ter
Tendo eu magoado meus pais em suas falsas moralidades
E que hoje vive com o passado, o presente e o futuro
Porque ao tatuar um Cristo no braço,
Este “homem” concedeu a si mesmo o perdão
Sem se importar com culpas
Com os estragos enormes por ele provocados,
Mas dados a mim como uma espécie de Cavalo de Tróia
Que aceitamos sem imaginar quanta maldade pode haver numa figura
Esculpida em homenagem a um deus.
Dispo-me dos meus pecados
Das minhas fantasias,
Das promessas que me fizeram
Sem preocupação em cumpri-las
Acompanha-me, tão-somente,
Uma solidão maior do que tudo isso,
Maior que todas as forcas
Onde eu possa meter o pescoço.
Porque estar viva, deste jeito, é estar morta devagar e solenemente.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

PERDIDA



Terá sido amor a aflição agora refém da minha alma?
Ou não terá sido nada?
Quem sou eu? Quem és?
Por onde andas neste instante se pareces a dois segundos de mim,
Mas já partiste há meses?
Por que brincaste de me fazer sentir?
Que motivo tinhas para me deixar tão loucamente só?
Dei-te colo, abrigo, aconchego, carinho?
Dei-te minhas mãos para que saíste daquele beco sujo.
E tu? Me desde esperança, certezas que não tinhas
E até sonhos para sonharmos depois de amanhã
No entanto, nada era real. Tua teia de mentiras acabou
sufocando
O ar já sufocante do cotidiano.
Pedi-te presença dias seguidos e não atendeste aos meus apelos
Ainda assim oro por ti
E quero-te bem mesmo sem que mereças
Sinto enormemente a tua falta
E adoraria rir das tuas bobagens de menino
Empinando pipas remendadas
Dei-te o quase eterno de mim
E, de volta, recebi a extrema-unção por estar viva
E absolutamente jogada a esmo.