terça-feira, 7 de outubro de 2008

A TUA PARTIDA EM MIM


Foto: Internet


Quando você partiu
O mundo parecia terminado
Mas não.
Tudo seguiu adiante.
As pessoas continuaram suas vidas
E eu fiquei ali.

Continuo parada na sala
Olhando as paredes estragadas
E as fotos que você levou embora.
Continuo a vagar pelo quarto
Buscando o sono que você também levou
E quando te vejo nas fotos
Tão feliz ao ser emoldurado ao lado DELA
Parece que a vida existe só ali.

Quando você se foi
As coisas perderam o sentido
Nunca imaginei você de longe
A sua presença era oxigênio em mim.

E eu ali
Perdida no musgo dos muros do quintal
Sem poder falar mais nada.

A sua partida rasgou todas as cartas que escrevi
E roubou todos os beijos que ainda havia imaginado como seus.
Meus lábios ficaram secos
Minhas mãos perderam o par.
Pensei que fosse passar
Mas não.

Mudei de casa,
Mudei os móveis,
As roupas,
A cor dos cabelos e até a companhia.

Mas ainda estou ali
Parada na sala
Mesclada no musgo do muro antigo.

Os seus beijos também trago comigo
Naquele jardim secreto que você disse existir em cada um.
Não tenho sono
Nem ar respirável.
Sua partida me partiu inteira.

E quando te vejo emoldurado e feliz com ELA
Tenho certeza de que nada faz sentido.
Você não pode estar ali parado e sorrindo
Você não pode estar com ELA
Porque você disse que nossas mãos seriam sempre um par.

Quando você partiu
Não levou apenas minha mão direita
Levou todas as partes de mim.

Agora, perdida neste lugar que nem sei onde,
Vejo que quando você partiu
Deixei de existir.
Não sou mais.
Não sou menos.
Não sou nada.
E nem sei o que faço aqui.

Porque quando você partiu
Virei espelho em cacos
Sem esperança de ser refeita.
E assim até a tua imagem se perdeu de mim.

Quando você partiu... Morri.

domingo, 29 de junho de 2008

EU



Sou o trapo que te vestiu por anos

A santa que te alimentou

A louca que aceitou teu soco

A luz que guiou teus passos nas noites cegas

A escuridão que te empurrou para o abismo

A saudade que carregas embora finja esquecer.

Sou tudo que pude

E que não quis também

Fui mãe

Sou

Deixei de ser porque alguém não quis

E, agora, embalada por mim mesma

No apartamento novo que não me cabe

Sou apenas um objeto a preencher as falhas que deixei

e as que deixaram em mim.

Sou o salmo que você não leu

A mulher que nunca mais olhará teus olhos

ou fará orações pela tua alma miúda

Sou uma grande filha da puta

neste mundo com início. meio e, talvez, FIM.

quinta-feira, 13 de março de 2008

LÁPIDE


Foto: Filipe Freitas -2006


QUE ALÍVIO VER A FOTO DO CASAL...
ENTÃO EU NÃO ESTAVA ENGANADA.
NÃO. NÃO ERA EU UMA LOUCA DESVAIRADA
A CISMAR COM A PRÓPRIA SOMBRA.
ESTIVE SEMPRE DE OLHOS BEM ABERTOS
E OUVIDOS ATENTOS A TUDO.
SANIDADE DEMAIS PARA QUEM PARECIA
SAÍDA DE NUVENS E CASTELOS INFANTES.
E OS DOIS, INFAMES E TORPES,
BRINCANDO DE MENTIR SÓ PARA FERIR
AINDA MAIS O AMOR DESFIGURADO.
QUE ALÍVIO JOGAR FORA OS RESTOS QUE QUARDEI
PARA ENTREGAR QUANDO O ÓDIO FOSSE APLACADO.
NÃO HAVIA MAIS ÓDIO NEM RAZÃO
PARA DAR COMIDA ÀS TRAÇAS.
RESTOU APENAS A CERTEZA DE QUE ME MANTIVE
ÍNTEGRA ATÉ O FIM SE CONSUMAR.
E ASSIM FOI FEITO. ENTERRO APÓS ENTERRO.
MISSA APÓS MISSA,
PORQUE A FOTO DO CASAL TEM CHEIRO DE MORTE.
E CONINUO VIVA PARA VÊ-LA, TALVEZ,
NUMA LÁPIDE QUALQUER
DA MEMÓRIA PERDIDA.

[b]Em 13/03/2008