domingo, 18 de abril de 2010

ANGÚSTIA DE SER NADA



IZA CALBO

Sou fácil de ser esquecida
Passo pela vida das pessoas
Sem deixar marcas de fogo... ou de água
Muitas fingem nunca terem me visto antes
Crio assim, de mim para mim mesma, um anonimato
Que me faz ser a cada momento mais invisível
Às vezes esta certeza parece rasgar a minha alma
É como uma não existência insistente
Que vai me transmutando de nada em nada
Não deixo saudade
Nem mesmo cicatriz
Sou uma desconhecida
E nem eu mesma saberia me identificar
Talvez eu não esteja aqui
Talvez eu não seja ninguém
Este talvez quase absoluto
Faz não me enxergar no espelho
Nem mesmo perceber o tempo que passa
E esta sensação angustiante de calma
Passeia tortuosa pelas minhas veias
Já despidas de sangue
Talvez eu seja imortal e não saiba
Seja um fantasma a atormentar o que sobrou do que fui um dia
De qualquer forma
Isso não importa
Porque mesmo não existindo
Eu sinta cada gota de sentimento
Que se derrama no asfalto
Na chuva a lavar as janelas
Nas frestas de onde observo
A minha não vida.
E, ainda sim,
Sinto dor, amo e amarro uma saudade no peito
Que mais parece um estilete a rasgar a minha pele fio a fio
Talvez a automutilação deste meu não ser nada
Um dia, quem sabe, me permita ser gente.

18/04/2010