tag:blogger.com,1999:blog-5612584004687179522024-03-05T08:24:30.533-03:00IZA CALBOFatos, fotos, palavras.
Verdades e mentiras.
Ou seria verdade? Ou mentira?
Tudo passa ou fica?
Esta página é de confissões e indagações. De amor e ira.
Todos os pecados cabem aqui.
Às vezes sobram.Iza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.comBlogger61125tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-2737878786591045572012-02-01T02:05:00.004-02:002012-02-01T02:20:29.256-02:00SER MÃE<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnOaXrChryWAd2hTzizryO_ddF5C0vhaopNuSauFpGr9LwiKV1ZS5atS6dxUaKAP8c7yHat9efOJvzFDVp8Xh5tn5iemyOPVUjXgEFr7sKC0DXe9XSpDH3FsPsNywCl8q8q5cyQS8s9MY/s1600/100_3999.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 265px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnOaXrChryWAd2hTzizryO_ddF5C0vhaopNuSauFpGr9LwiKV1ZS5atS6dxUaKAP8c7yHat9efOJvzFDVp8Xh5tn5iemyOPVUjXgEFr7sKC0DXe9XSpDH3FsPsNywCl8q8q5cyQS8s9MY/s400/100_3999.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5704013694509528994" /></a><br />Foto: Iza Calbo. Mostra a gatinha Estrela D´Alva, que nasceu dia 19-01-2012, junto com mais 4 rebentos. Filhos de Mionzinha. Ela está de papo para o ar, é tigrada como a mãe, já abriu os olhos e faz pose<br /><br />IZA CALBO<br /><br />Aniversário é só calendário soltando as folhas...<br />Coisa de tempo passando. Gente que morre, que nasce...<br />Nada além disso e de uma contagem nem sempre real.<br />Temos uma idade e uma idade.<br />Perto das 2 da manhã,<br />em meio ao barulho da lavagem de Santo Amaro,<br />às vésperas de saudar Iemnanjá<br />A voz de Thiago, o caçula, é um sinal de coisa boa<br />Coisa que dinheiro não paga<br />Coisa que não se mede...<br />E a menina, a filha que tive?<br />Ele me conta: - Mãe, ela está grávida de 4 meses.<br />Faço as contas e penso que, em setembro, ela estava aqui.<br />Que talvez, em meio as desafetos e o amor mal resolvido, <br />esta criança tenha sido gerada aqui.<br />Enfim, nem posso pegar o trem das Onze<br />Ou ficar feliz como deveria.<br />Espero que, como a estrelinha Dalva, <br />este nome tão provisório,<br />este ser seja, também um anjo<br />e que, vindo a conhecer ou não,<br />venha com uma saúde imensa,<br />viva em paz e tenha a infância que a mãe não teve.<br />Só isso já é a certeza de que Deus, de certo modo, existe...<br />E está aqui, dentro e fora de cada um de nós.<br /><br />PS: Obrigada Thi, meu BB lindo, por lembrar que o calendário mudou.<br />Cuidem-se e sejam felizes. Um dia eu chego lá!<br />Querendo ou não, IZA, a mãe de ambos.Iza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-37032778288833452222011-11-04T20:18:00.002-02:002011-11-04T20:21:51.414-02:00SOBRE O NADA<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMdigSnUquMZyp499CbD7EoDb2V-Rb40_xCJZGGZv5cKWLEJXIKkBSNlyFvV_yP9xmSDrxhPsX5t6Zhy4puKoXmlI-OXIBdrSTLZGYVwf2q1jAtgGKTy5V-SWI1760SxvLrDuni43CIkU/s1600/Flores+secas.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 334px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMdigSnUquMZyp499CbD7EoDb2V-Rb40_xCJZGGZv5cKWLEJXIKkBSNlyFvV_yP9xmSDrxhPsX5t6Zhy4puKoXmlI-OXIBdrSTLZGYVwf2q1jAtgGKTy5V-SWI1760SxvLrDuni43CIkU/s400/Flores+secas.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5671268838648923490" /></a><br />Fotomontagem: O rosto da autora em meio a um assoalho de madeira onde sobressai uma flor seca<br /><br />IZA CALBO<br /><br />Enerva-me as flores secas da Primavera<br />E o frio insistente a me roçar o peito enquanto durmo<br />Nos meus nefastos sonhos em chuva mesclados<br />Salto como rusga de um passado de essência turva<br /><br />Não são mais azuis as águas de Amaralina<br />Nem me enrubesce a face os carinhos roubados a caminho do nada<br />Troquei as traças pelo cheiro adormecido da naftalina<br />E, ainda assim, meu sossego se faz esparso<br /><br />Sinto vontade de saltar do topo onde nunca estive<br />Mergulhar na escuridão dos rios de cobre da Chapada<br />E caçoar da minha falta de senso que costumava chamar amor<br />Escrevo sem linha que se trace<br />Sem nada que me faça trocar o tropeço pela areia movediça de logo mais<br /><br />Não tenho mais tempo<br />Não tenho mais nada<br />Lembranças são fuxicos feitos ao lado da cigana velha<br />Enquanto adolesciam os meus sonhos infantis<br />Mal cuspi a vida e a vida já havia escarrado em mim.<br />E tem sido assim<br />Um descomeço<br />Um medo de ser sem ter sido nada que valha<br />Uma barba por fazer a me incomodar no meio da noite sem sabor<br />Feito gelatina estragada em meio a morangos apodrecidos<br /><br />Estou mofando na geladeira antiga<br />E nenhum fruto me traz o gosto que imaginava haver em tudo o que tocava e, sem saber, virava veia sem sangue e pele sem viço.Iza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-78808628124962066022011-10-18T21:27:00.003-02:002011-10-18T21:32:44.953-02:00CREIO<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGzNSuPm3fR9_b3es_dcRvDbJ2gVlMCDCOMB3UBKz0NnOIxlw4PrrGQANR3NU1MmuaeH9D6e8MkEK5fKFzy4JVgth14-NKE3CeB-JZEwC426qJEDoBhlhRx4exGXbkdJEo9HIulz3hxCQ/s1600/CREIO.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 264px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGzNSuPm3fR9_b3es_dcRvDbJ2gVlMCDCOMB3UBKz0NnOIxlw4PrrGQANR3NU1MmuaeH9D6e8MkEK5fKFzy4JVgth14-NKE3CeB-JZEwC426qJEDoBhlhRx4exGXbkdJEo9HIulz3hxCQ/s400/CREIO.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5664978370457086866" /></a><br />Foto-descrição: Montagem que tem no fundo uma das cenas do filme A Fantástica Fábrica de Chocolate, onde os homenzinhos dançam em torno de uma espiral, sobreposta à imagem da autora deste texto, meio deitada, meio princesa.<br />Fotomontagem: Iza Calbo<br /><br />IZA CALBO<br /><br />Creio na inocência e na maldade<br />No amor real e no inventado<br />No que pensamos ser e no que, de fato, somos<br />Creio nas paisagens<br />E nas estradas castigadas pela solidão<br />Nas fadas das histórias que me contaram<br />E nas bruxas que me assustaram o sono<br />Creio no sentimento bruto<br />E no que se possa lapidar<br />E, até mesmo, na impossibilidade de se encontrar algo além da crueldade<br />Somos todos imperfeitos<br />Somos canastras perdidas de um jogo sujo<br />Sei que não posso manipular as almas de quem amo a meu favor<br />Sei que o amor que perdi não está no que encontrei<br />Que todo amor perdido é uma ausência infinita no âmago do desejo<br />Ainda assim creio no amor que sinto<br />Nos amores que tive<br />Nos que tenho<br />E, se o inimigo estiver por perto, acredito na capacidade dele em me apunhalar<br />Não por raiva somente, mas por instinto também.<br />Tenho sonhos terríveis<br />Sonhos amáveis que tento guardar no travesseiro<br />Pesadelos nunca apagados por conta das mágoas do passado<br />E o rosto trazido de volta<br />Nas noites quase insones nas quais somente a minha companhia se estende na cama<br />Creio em filhos que amo<br />Em filhos que não me amam<br />Em filhos que tive<br />E nos filhos que terei por escolha<br />Desacredito de quem se diz arrependido<br />Quando este arrependimento aparece nas palavras jogadas ao vento<br />Nas faces das redes de relacionamento<br />Onde muitos algozes posam de cordeiros de Deus<br />Creio na Divindade que me conduz<br />E também nas fontes de energias opostas que me afastam da fé<br />Sou completamente humana<br />Admito erros, comemoro acertos nem sempre exatos<br />E, ante tudo, ainda abro os braços para afagar desafetos<br />Não acho o mundo impossível<br />Acho que somos o impossível no mundo<br />E, se muito tenho de tempo,<br />Deixo passar à mercê das inúmeras esperas<br />Um dia, quem sabe,<br />Talvez nos encontremos num cruzar de olhos ou de ruas<br />E ai toda a fantasia fantástica das fábricas de chocolate de meu pai<br />Arrancando doces do meu ouvido de criança perdida<br />Ganhem o pulso absoluto para que mesmo o vazio da ilusão seja tecido com o linho do Eterno.Iza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-78183819670294870592011-09-21T11:15:00.004-03:002011-09-21T11:24:00.177-03:00COLECIONADOR DE ALMAS<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgD9J8get53D-25Ff94MDuzn1axhd1jf8koVf2Woy7uYzE-BiArQFdFBv7_TCVBo8FRAqgacBzqPmKOX7wnxUUy27mYMrhkRPq_3cqok546mIQdFfrFA2Uq2dJVNlpuJBTE5FZkjVftb9o/s1600/fotomontagem.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 216px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgD9J8get53D-25Ff94MDuzn1axhd1jf8koVf2Woy7uYzE-BiArQFdFBv7_TCVBo8FRAqgacBzqPmKOX7wnxUUy27mYMrhkRPq_3cqok546mIQdFfrFA2Uq2dJVNlpuJBTE5FZkjVftb9o/s400/fotomontagem.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5654818157424264642" /></a><br /><span style="font-weight:bold;">Foto:</span> Montagem feita pela autora, onde se vê um homem passando na penumbra e duas mulheres esticadas, nuas, num chão lamacento<br /><br />IZA CALBO<br /><br />Arrancaste minha alma com os dentes<br />Cuspindo, na minha frente, os pedaços que eram teus<br />Não me deste tempo de desatar os nós<br />Que tu mesmo fizeste feito marinheiro que és<br />Para que estivéssemos sempre juntos<br />Ainda que soubesses da tua sina de abandonar os portos<br />E da tua falta de coragem de ser o último a deixar o navio<br /><br />Assististe ao naufrágio do meu amor<br />Como quem assiste a um filme sem necessitar ler as legendas<br />Tens a capacidade de saber outras línguas<br />E, por isso, pouco te importaste em prestar atenção na que meu coração te falava<br /><br />Saíste de cena da mesma forma como apareceste<br />De repente, sem avisar, se aninhando no colo que nunca, de fato, quiseste ter<br />Tua atuação, digna de aplausos, foi imitação barata de filmes que vimos abraçados<br />Nunca imaginei que o fim fosse ter a dor do incompreensível<br />Como tantas películas que nos deixam ser saber ao certo o que aconteceu<br /><br />Roubaste meus melhores dias<br />E, não satisfeito, meus melhores momentos<br />Na tua trama assassina me puseste num dos montes de corpos<br />Como fazes por onde passas...<br />Esticados no curtume das tuas andanças vis<br /><br />Amanheci hoje com os teus tantos “eu te amo” ecoando nos meus ouvidos surdos de querer<br />Deveria ter notado que até no tratamento que ofertas a quem dizes amar<br />Os termos se repetem<br />Mudam apenas os corpos e os rostos<br />Para que não precises ter o trabalho de recomeçar<br /><br />Mas as tuas falhas de continuidade<br />São irmãs gêmeas do teu caráter torto<br />Se hoje ainda acordo e lembro-me disso tudo<br />E para que nunca mais possa ter a vontade de cruzar a mesma rua<br />Ou passar por cima do chão que pisas<br /><br />Sei teu endereço, os lugares que freqüentas... As coisas que fazes<br />Mas recolho-me, ermitã, evitando a todo custo cruzar o teu caminho<br />Antes, o teu caminho era a lanterna que usava para não me perder<br />Desconhecia o abismo onde me atirarias<br />Tão logo estivesses pronto para ter futuro mais promissor<br />Não que busques algo tão ingênuo quanto o amor<br />Longe, bem longe disso<br />Tuas posses são muito mais amadas que as tuas vítimas<br />Enjauladas pelo teu carinho falso e mordaz<br /><br />És um algoz<br />Nisso podes saber-te perfeito<br />No mais, és uma pessoa sem nada<br />Além das almas que levas junto com as tuas malas<br />Colecionando a essência dos que te amam<br />Para, quem sabe, um dia, ter alguma essência que te valhaIza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-22389785073667897052011-08-27T21:04:00.004-03:002011-08-27T21:09:30.828-03:00ILUSÃO DE AMOR<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4nB9UerfiQNNy3c63HKgrafrwMYboLa0y5i57uGYTSeyUf-69rDNreHUxqV5DUk6cxyL643WRaISbrEL3F_zxyWBMv8brYHfcv0tZ7p0_kGa8x2V_uWN_VhoL_6RH3DkJraSNhbC-Wc4/s1600/209397ilusion.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4nB9UerfiQNNy3c63HKgrafrwMYboLa0y5i57uGYTSeyUf-69rDNreHUxqV5DUk6cxyL643WRaISbrEL3F_zxyWBMv8brYHfcv0tZ7p0_kGa8x2V_uWN_VhoL_6RH3DkJraSNhbC-Wc4/s320/209397ilusion.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5645691208723973506" /></a>
<br />Imagem: Mescla um olho de mulher com uma foto sobreposta da autora. Fotomontagem minha.
<br />
<br />
<br />Senti o que não se sente
<br />Sua barba a roçar minha nuca
<br />Sua boca à procura do nunca
<br />
<br />Senti o que não podia
<br />Teu corpo teso em cima do meu
<br />Teu sexo aberto em flor buscando sei lá o quê
<br />
<br />Senti o que queria
<br />Mas era sonho
<br />E quando acordei não estavas lá.
<br />Iza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-75440394870497706602011-05-13T23:36:00.003-03:002011-05-13T23:40:19.532-03:00DECRETO DE SOLIDÃO<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcNkeAbB2rjkSsK4AfUA_GmBSNVBjiEqiHgsB8qyh5NuWxkp64w9Vcl48UIFRZe2EFuwAvjRtEHYe9XV0wOfWglfLKh49n4MJ40HSZvdHXA-YB6KGZcDz45MFJTjrIBjqjujXLipzvrzg/s1600/solidaoiza.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcNkeAbB2rjkSsK4AfUA_GmBSNVBjiEqiHgsB8qyh5NuWxkp64w9Vcl48UIFRZe2EFuwAvjRtEHYe9XV0wOfWglfLKh49n4MJ40HSZvdHXA-YB6KGZcDz45MFJTjrIBjqjujXLipzvrzg/s320/solidaoiza.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5606395388401890482" /></a><br /><br />Fotomontagem: IC. Mostra parte das pernas de uma mulher em preto e branco e duas flores vermelhas entrelaçadas por cima desta imagem.<br /><br />IZA CALBO<br /><br />Eu te vejo e nem imagino que há uma distância concreta entre nós<br />Ainda sinto a chuva no ponto de ônibus<br />Os beijos roubados num consentir sem limites<br />A vontade de voar para longe de tudo, ao teu lado<br /><br />Roubo fotos caço versos que rasguei e guardei no pensamento<br />Não temos mais tempo, não somos mais nós<br />O que parecia eterno hoje caçoa de mim num papel amassado<br />E jogado sem razão na rua que ontem acabamos de limpar<br /><br />Não trago mais a verve da poesia exposta<br />A morte me sonda feito naja<br />E quase rasgo os pulsos sem sentir nada<br />Está tudo acabado como na voz do poeta<br />Está tudo estanque e sem vida<br />Na paleta, onde antes, cores afloravam<br />Em nossos escassos retratos<br /><br />Busco sonhos ao dormir<br />Busco tudo que quis e não pude realizar<br />Tudo que se fez promessa desfeita<br />Como prece para o santo errado<br /><br />Ainda assim todas as coisas estão eivadas de amor sem fim<br />Todas as coisas estão assim ou quase assim<br />E a velha canção de Marina<br />Ainda passeia pela Orla<br />Por onde passávamos sem pressa<br />Sentindo o sal em nossas narinas<br />No cheirar a nuca de logo mais<br /><br />Estou perdida. Sem caminho<br />Sem carinho que complete o que ficou no vazio<br />Sem teus dedos<br />Sem teu corpo de marcas invisíveis que dizias existir<br />Marcas feitas quando fizeste a cabeça<br />E te entregaste as tuas crenças tão azuis<br /><br />Estou a um palmo de dizer não<br />A um passo de clamar sim<br />De dizer: Volta. Simplesmente.<br />Uma volta, que sei, só se faz no decorrer dos sonhos<br />Em meio aos mares nos quais posso te ver<br />Sem ousar tocar teus ombros<br />Para que me vejas também<br /><br />Será que sentes a minha alma colada no teu peito<br />Onde costumava me deitar inteira e sem medo?<br />Será que te lembras das nossas andanças<br />Parando de bar em bar sem nada buscar?<br />Será que te lembras de lembrar-se de nós?<br />Não. Creio que não.<br /><br />Definitiva e duramente,<br />A solidão é a única dama<br />A dançar lado a lado com a minha dor<br />E se não me consola<br />Ao menos me faz sentir que, em essência,<br />Continuamos a existir naquele ponto de ônibus<br />Molhados pela chuva e pelo prazer quase proibido,<br />Mas que sempre teve a leveza da luz<br />Que deixaste como trilha ao partir daqui.Iza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-76166162526679753902011-05-05T23:37:00.006-03:002011-05-09T21:31:25.957-03:00DECLARAÇÃO DE SAUDADE<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUarvf39uYvGehcGD0TYZZE3ne9g8N2tNLbfPz3miz6BqFUdKicId9sygxJPhEuBJMmp5z0q_ZlgazrWFCTgJx2rrMnjwQCQLp5cH1IPBUuqsdOTeF3Rj3AijCHgyEl9f63LMikQBKYvo/s1600/Montagem+saudade.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 235px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUarvf39uYvGehcGD0TYZZE3ne9g8N2tNLbfPz3miz6BqFUdKicId9sygxJPhEuBJMmp5z0q_ZlgazrWFCTgJx2rrMnjwQCQLp5cH1IPBUuqsdOTeF3Rj3AijCHgyEl9f63LMikQBKYvo/s320/Montagem+saudade.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5603428953264130498" /></a><br />Fotomontagem: IC. Mostra um casal deitado, nu, e a palavra saudade escrita na areia<br /><br />IZA CALBO<br /><br /><br />Caminho pelas ruas com tua presença incrustada na pele<br />É como se nunca tiveste ido embora<br />O arrastar das sandálias<br />O barulho da chave invadindo a porta<br />E aquele gosto de saudade<br />Mesmo quando o teu beijo era exato<br />Não consigo me desfazer da sua alma<br />Nem me libertar do teu cheiro<br />Ou da tua carne<br />Os cabelos finos que acaricio no vazio<br />Fazem dos meus dedos meros fantasmas iludidos<br />Isso me causa cansaço feroz<br />E, extenuada, me entrego ao sono forçado pelas pílulas<br />Mas não encontro alivio<br />Os meus sonhos te trazem para mais perto<br />Como se isso fosse possível<br /><br />Caminho pelas ruas com o teu sorriso ecoando na mente<br />Não te vejo, não te vi mais, mas o amor parece moldado em sal<br />E fere as feridas que trago quase estancando o sangue das veias<br />Sinto tuas mãos enlaçadas nas minhas<br />Nossas pernas embaraçadas na cama<br />Nosso amor feito e refeito sem nunca querer parar<br />Tua companhia incorpórea transtorna a mente embotada de sol<br />É como se estivesses me esperando no bar da esquina<br />Como se fôssemos conversar por mais de 20 horas<br />Desafiando o tempo a passar<br /><br />Caminho pelas ruas sozinha<br />Mas a minha solidão bate de ombros com tua imagem fugidia<br />Um nó engasga a garganta e as lágrimas deslizam suaves<br />Quase sem razão de ser<br />Se forem perceptíveis, pouco importa<br />O dia, sem você, é escuro<br />Há nuvens pesadas encobrindo lembranças<br />Mas uma fresta de sol me faz ver tua face<br />O teu sorriso está ali,<br />Calado ao pé do meu ouvindo<br />Prestes a gritar a alegria inexistente<br />Deixaste teu canto solo num canto do meu coração<br />E a tua música, com seus rifes, rompe o silêncio em mim<br /><br />Caminho por todos os lugares,<br />Todos os dias<br />E, até mesmo em casa, tua voz murmura palavras que guardei<br />À margem da mágoa que provocaste<br />Temo te ver de fato<br />E me refugio para evitar que, ao acaso, o teu passo encontre o meu<br />Não teria palavras<br />Minha voz... Esquecestes de devolver<br />Também não te lembraste de levar teu coração para longe do meu<br />E se hoje nossos corações separados<br />Em mim batem juntos numa melodia insensata<br />É porque o amor negado<br />Não teve tempo ainda para ser esquecido<br />O amor descartado pela tua vontade<br />Continua em mim, fazendo-me refém desde sentir em vão<br />Queria tocar teus ombros largos<br />Cair sobre o teu corpo num mergulho de desejo e mar<br />Mar de Amaralina<br />Mar do Rio Vermelho<br />Mar da Bahia<br />Onde juraste me amar até o infinito,<br />Esquecendo de avisar que o infinito acaba...<br /><br />Caminho, agora, por dentro de mim<br />E, nesta gruta ainda casta,<br />Encontro-te nas águas azuis e intocadas<br />Nestas águas me banho imaginando ser cada gota <br />Uma gota do teu suor<br />As gotas de suor que batizaste de pérolas<br />Não há nada que me afaste da sua presença<br />Nem mesmo a tua ausência de tantos anos<br />Porque nunca estiveste ausente em mim<br /><br />Cravaste uma lança no meu peito<br />E não há quem possa retirá-la.<br /><br />Isso somente tu poderias fazer sem me matar aos poucos<br />Como acontece agora quando mesmo<br />Sabendo-te longe, ainda que tão perto<br />Sinto tua alma escamada na pele do meu silêncio.Iza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-83566962816169801952011-02-18T17:50:00.003-03:002011-03-09T15:56:04.438-03:00REFLEXO DA MOÇA DESESPERADA<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsQZn9j_rZs3g6op6iW4m1SLLVd1D0G0_SWUPvE0neaRTM2SxShfyeiBAxfArrYzj1jJDqrxXT6OcbHQBu_a_XGNOI9hyphenhyphenaiFyB5o3Km52_tAjThXYcAU2jHrXYLyvp83OjXRfGrt4sCYY/s1600/deitada3desesperada.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 293px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsQZn9j_rZs3g6op6iW4m1SLLVd1D0G0_SWUPvE0neaRTM2SxShfyeiBAxfArrYzj1jJDqrxXT6OcbHQBu_a_XGNOI9hyphenhyphenaiFyB5o3Km52_tAjThXYcAU2jHrXYLyvp83OjXRfGrt4sCYY/s320/deitada3desesperada.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5575134999180721682" /></a><br />IZA CALBO<br /><br />- Você é louca – diz a moça desesperada.<br />- As pessoas estão rindo de você – insiste, enquanto coça a cabeça infestada por piolhos.<br />Naquele sanatório, a paciente de prenome Márcia, chamada docemente pelos funcionários de “moça desesperada”, vai tecendo a realidade paralela e lançando mísseis imaginários em todas as direções.<br />No fundo, ela não sabe ao certo onde está o alvo. Perdeu a noção quando se viu sozinha,<br />na casa mofada, abandonada pelo homem que julgava ser seu para sempre.<br />A moça desesperada acredita mesmo nos extremos. <br />Tudo para ela gira em torno do SEMPRE e do NUNCA. <br />Nos devaneios nos quais se perdeu, esqueceu a existência do TALVEZ <br />Descartou que o SEMPRE acaba e que o NUNCA pode ser a afirmação de muito querer o que ela – a moça desesperada - se propõe a desdenhar.<br />As altas doses medicamentosas parecem sem efeito.<br />Não raro, a moça desesperada surta e passa a atacar a mulher louca. <br />Na imaginação estacionada no pátio de sua mente estática, <br />foi a mulher louca quem tomou dela o HOMEM que julgava ser uma propriedade.<br />Nos corredores, pessoas com problemas bem maiores, tentam abrandar a fúria que assola o coração da moça.<br />E ela ri todo o tempo. <br />Acredita que é a melhor e credita a volta do seu HOMEM para a mulher louca pelo poder que, supostamente, esta tem para sustentar o HOMEM, que julgava ser seu.<br />Desconhece a história dos dois.<br />Entrou no meio e, sem saber, embaraçou-se nas teias da ilusão do eterno.<br />A moça desesperada vive entre altos e baixos. <br />Murmura pelos cantos<br />Inventa pessoas que não existem, xinga desesperadamente a mulher louca.<br />Ela tem, assim, uma arquiinimiga.<br />E a mulher louca, como ela diz, continua a viver sem se preocupar com a posse do HOMEM que a moça desesperada, <br />mesmo negando veementemente, reclama para si.<br />A mulher louca cuida da vida, do corpo, da alma. <br />Não se importa se riem dela ou se falam dela. <br />Ela não tem mais a pressa que aprisiona a moça desesperada. <br />Aliás, nunca teve.<br />Já viveu muitas histórias. Amou como pode e soube.<br />Agora, ama sem nada esperar.<br />A mulher louca não coça a cabeça nem alimenta piolhos com seu sangue<br />Não xinga, não morre de medo de ser deixada pelo HOMEM que a moça desesperada pleiteia como a um troféu.<br />Na verdade, a mulher louca já tem os troféus mais importantes: serenidade e paz de espírito.<br />E assim, neste cenário, a mulher louca ouve as ofensas da moça desesperada e não acha graça. <br />Simplesmente sente pena. <br />E pena, sabe a mulher louca, é o último sentimento que se deve sentir por si mesmo ou por outrem. <br />Mas, sem ter outra forma de ver tal desespero, pena é o que sobra da mulher louca para a moça desesperada.<br />Talvez a mulher louca se apiede da situação e, então, passe a sublimar o desespero da moça, que também já é mulher, embora não saiba ou se recuse a aceitar.<br />O HOMEM da moça desesperada assiste a tudo num misto de graça e medo. <br />Ele teme que a moça desesperada se interponha entre ele e a mulher louca que, <br />cansada de tudo isso, prefira seguir sozinha, deixando para a moça desesperada a sensação de pertence que a motiva.<br />Sensação irreal na qual a moça desesperada se apega como o fazem os insanos a uma cruz pesada e sem dono.<br />A mulher louca já deletou a voz e a existência da moça desesperada várias vezes<br />Mas o desespero da moça parece um grito abafado no silêncio aquietante do amor que o HOMEM lhe dispensa cotidianamente e que ela – a mulher louca – retribui naturalmente.<br />Porque a mulher louca sabe que o amor não amarra <br />Muito menos se cola num diário amarelado de queixas. <br />A mulher louca distingue amor e paixão<br />E, mais que nunca, valoriza a companhia e o carinho sem amarras. <br />Já a moça desesperada segue desfigurando a face da própria juventude<br />Enrugando os dias com tolices e desatinos.<br />E quanto mais ela assim o faz, mais a mulher louca brilha em sua simplicidade. <br />Porque a loucura, além de patológica, pode ser um sinônimo de felicidade e, quiçá, genialidade.<br />Louca, a mulher toma um banho com ervas e se deita ao lado do HOMEM<br />O mesmo que, por um breve espaço de tempo, esteve com a moça desesperada. <br />No peito macio, todas as noites, ela escuta o coração do anjo que escolheu para acompanhá-la, dando-lhe abrigo e a chave da porta para quando for necessário partir.<br />A moça desesperada escreve com letras garrafais imaginárias no teto da enfermaria:<br />-SUA LOUCA.<br />E, sem se dar conta, o espelho a reflete<br /><br /><br />Imagem: WEB. Mostra uma moça deitada e a própria imagem como um reflexo. Está seminua, com a face coberta pelos cabelos e o corpo envolto num lençól branco. Foto P & B<br /><br />OBS: A partir de agora as imagens serão descritas para facilitar o acesso dos deficientes visuais. Aos poucos, este blog será totalmente acessível.Iza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-72899659535661489822010-10-03T14:44:00.002-03:002010-10-03T14:59:29.989-03:00LARVA<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEik6_4tqugqfa_dhw5SWnir3G605RZG44f04UpVnelDfYNXo0iih41ouaeboRsygfBHzddD37YHGktkkxDbouvNcCvTZac380-hro_eD5ovsSHWhOW5tKb5DlJHegpb3tyJxZihz1jNpH8/s1600/borboletas2.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 307px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEik6_4tqugqfa_dhw5SWnir3G605RZG44f04UpVnelDfYNXo0iih41ouaeboRsygfBHzddD37YHGktkkxDbouvNcCvTZac380-hro_eD5ovsSHWhOW5tKb5DlJHegpb3tyJxZihz1jNpH8/s320/borboletas2.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5523880365039012978" /></a><br />IZA CALBO<br /><br /><br />Sinto-te como quem sente flores pisadas no chão<br />Borboletas abortadas no casulo<br />Ou versos que não se estabelecem no papel<br />Sinto-te torpe<br />Num desespero que tropeça na loucura<br />E amassa papéis velhos socados nas gavetas.<br />Nem sei se o momento é de encontro<br />Ou se o sorriso é de verdade<br />Cambaleio em meio a mentiras<br />E mudo todas as minhas senhas<br />Para que nem eu mesma me ache<br />Estou à mercê do seu beijo matinal<br />Das suas carícias adornadas pelo desejo<br />E desta sua insistência em reafirmar o amor que,<br />Se existe, não o considero diretamente a mim.<br />Cansa-me a imperícia dos homens<br />O linguajar chulo das amantes contrariadas<br />O vaivém de bobagens que escuto e finjo não entender<br />Não quero nada<br />Absolutamente nada<br />Porque o nada é uma imensa estrada<br />Na qual construímos nossos sonhos<br />E, cedo ou tarde, todos eles se despedaçam<br />Como as flores pisadas no chão por onde passas<br />Ou as larvas que nunca experimentarão<br />A beleza infinita das borboletas.<br /><br />Imagem: WEBIza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-50399979321969873702010-08-30T14:17:00.002-03:002010-08-30T14:24:49.847-03:00BILHETINHO<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYupv11pGmkI0Q69mTfgdZJswbE63gogqoc31GICMmS58nJVu54otL0S82KriUTG9UtMIZvW6wvunl0Y0_DsZxNmHaAisEItLmYCNtQnElAOsQ31lE9vmTJyhhKD423i2tkLGdSU4-cec/s1600/PhotoFunia-316141.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 257px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYupv11pGmkI0Q69mTfgdZJswbE63gogqoc31GICMmS58nJVu54otL0S82KriUTG9UtMIZvW6wvunl0Y0_DsZxNmHaAisEItLmYCNtQnElAOsQ31lE9vmTJyhhKD423i2tkLGdSU4-cec/s320/PhotoFunia-316141.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5511255110223335522" /></a><br /><br />O fato de não estarmos mais juntos, <br />não impede que o amor permaneça. <br />Deixemos tudo como está. <br />Eu sou uma pessoa independente e, <br />ainda que me sinta só às vezes, <br />sei que sua companhia estará sempre comigo. <br />Somos uma prece. <br />Somos os mesmos de quatro anos passados. <br />O sentimento ainda pulsa e isso é o que importa. <br />Não esquenta a cabeça. <br />Não se divida. <br />Eu me cuido. <br />Eu me amo. <br />E, por me amar, <br />te amo sem cobrar absolutamente nada. <br />Fica o tempo que for preciso. <br />Volta se quiser. <br />Faz cada coisa a seu jeito. <br />Como dizem os sábios: <br />o que é do homem o bicho não come. <br />Ouvir tantas coisas lindas, <br />já valeu o dia, <br />a noite e até a ausência física. <br />Porque a presença que não se vê <br />é, não raro, maior e mais importante <br />do que aquela que devora o cotidiano <br />e vai matando o amor aos poucos. <br />Beijos, beijos e mais beijos. <br />Cuida de você. <br />E, se não tiver tempo, <br />deixa que eu cuido de nós dois.<br /><br />Pelos dias 23 e 24-agosto-2010<br />Lembra sempre: É Isso Aí!Iza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-78494387348330775582010-08-30T09:40:00.002-03:002010-10-03T15:07:35.489-03:00DEFINITIVO<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhM2D7xCmARymkFQHBFmvErEHD-Si85FZ2Rb_LiNeQBkiLVXs7dh_t2EHAXCdjucy9SI16Z5RKokap7nsIqBdryVsdU7eZrr16dVDPjgDTwKJqHODk-1mc0p6aJpfLMtLg2RxoVdiQbc6U/s1600/Porta.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 222px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhM2D7xCmARymkFQHBFmvErEHD-Si85FZ2Rb_LiNeQBkiLVXs7dh_t2EHAXCdjucy9SI16Z5RKokap7nsIqBdryVsdU7eZrr16dVDPjgDTwKJqHODk-1mc0p6aJpfLMtLg2RxoVdiQbc6U/s320/Porta.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5523882893514232226" /></a><br />IZA CALBO<br /><br />Deixe-me só. <br />Não queira saber de mim. <br />Eu sequer existo.<br />Não pense que se aconteceu algo, isso representou realidade.<br />Sente a areia movediça acima dos teus pés,<br />enquanto o sol de agora me esquenta a nuca.<br />Beija a boca que estiver mais perto da tua,<br />porque meus beijos não estão à mercê de desejos escassos.<br />Cata o lixo espalhado pela casa e se suja na lama que te segue.<br />Eu não quero nada além que não seja belo, limpo e puro...<br />E, sinceramente, muito menos alguém que me encha o espaço com mentiras.<br />Reveja as datas. <br />Tuas contas estão todas erradas.<br />E não apareça para buscar os trapos velhos...<br />Minha porta mudou de lugar.<br /><br />Imagem: WEBIza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-50068556146870172802010-08-26T11:34:00.003-03:002010-08-26T11:37:06.680-03:00O DOM DO SILÊNCIO<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOtHYzVscuMdO1W0EdIIO-0jqTumd7jTxMQQfzWXVo-yAMLzMv7p6F7j2QWh2Eedqs2FIppkqsynY7wbpEg_MoOYtZ6cdq86SD9gVLTThS8zcnexo6EKONxc9O1anD2XTR_raX28MbDpw/s1600/silencio2.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 274px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOtHYzVscuMdO1W0EdIIO-0jqTumd7jTxMQQfzWXVo-yAMLzMv7p6F7j2QWh2Eedqs2FIppkqsynY7wbpEg_MoOYtZ6cdq86SD9gVLTThS8zcnexo6EKONxc9O1anD2XTR_raX28MbDpw/s320/silencio2.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5509727463830704818" /></a><br /><br />IZA CALBO<br /><br />Escuta o silêncio.<br />Há mil falas no que pensamos não ouvir.<br />Atenta...<br />Coloca teu sentido para apurar o não dito<br />O que calamos quando a vontade era a de explodir.<br />Ouve cada barulho que não nos é dirigido<br />Que é simplesmente lançado no espaço sem endereço e, muitas vezes,<br />por remetente desconhecido.<br />Tenta captar o som que não incomoda<br />E aquele que invade o cérebro como música que não se deseja ouvir.<br />Sente cada nota não tocada<br />Cada xingamento não dirigido<br />Cada fala entrecortada pelo vento <br />Por transeuntes desconhecidos nos passeios das ruas<br />Senta num dos bancos da igreja<br />E ouve a prece que não se diz, mas se faz<br />Ainda que em nada mais se creia<br />No dia em que aprendermos a viver em silêncio<br />Talvez aprendamos a escutar o que grita o nosso coração<br />Neste dia, apenas neste dia, seremos sábios<br />E quando nada mais houver para ouvir<br />E o coração, como nós, silenciar<br />É porque, neste instante, tropeçamos com a paz<br />Sem alarde, sem buscá-la,<br />Apenas porque aprendemos a ouvir o<br />Que somente ao coração é dado o dom de pronunciar<br />Sem buscar evocar belas palavras ou mentiras vãs.<br /><br />26-ago-2010<br />IMAGEM: WebIza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-25961807711429285152010-08-24T12:13:00.005-03:002010-08-25T08:17:47.178-03:00NAS ASAS DO ANJO<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimqfdYFNyfaYCkqlawYSAvnHup0AkO8WTNnMaVuXibkfxg6t4Uh0ZhJ9qrpDbmAFfmTPdQEhnUIUT7RCMADG5wrFjmAGEX4fuGLLT0SOBgy-nHxYztMz9qn40t1WBIZtUF1-VSJDjWE_8/s1600/100_2749.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 267px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimqfdYFNyfaYCkqlawYSAvnHup0AkO8WTNnMaVuXibkfxg6t4Uh0ZhJ9qrpDbmAFfmTPdQEhnUIUT7RCMADG5wrFjmAGEX4fuGLLT0SOBgy-nHxYztMz9qn40t1WBIZtUF1-VSJDjWE_8/s400/100_2749.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5509305129425671394" /></a><br /><br />IZA CALBO<br /><br />Te rever, tocar<br />sentir que o tempo não existiu<br />Reimprimir os sentidos e os sentimentos<br />Ressentir só amor... sem mágoa<br />Retomar o tesão e tocar teus lábios<br />E quase morrer nos Teus/ Meus beijos<br />Te fazer cafuné e, até,<br />te tomar nos braços como sendo apenas Um<br />Como se nunca tivéssemos estado longe<br />Como se o AGORA fosse o SEMPRE... E É!Iza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-17842009220721669022010-07-14T14:58:00.004-03:002012-04-30T17:49:54.382-03:00COMO NO CINEMA<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJsBe30yeb8CxFySsiB-WCFBuoBzBrdxofIby6meF0bWKm2tXHtovbn1Yyl0F43QzyH9AYcqsW-I8PgnMbdOehZQyNM_E1lv6mSJzFMJPDbkQdg4c-cDCHNRKJiu3FoKm5QJdMIKBxX_c/s1600/No+cinema.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 178px; height: 292px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJsBe30yeb8CxFySsiB-WCFBuoBzBrdxofIby6meF0bWKm2tXHtovbn1Yyl0F43QzyH9AYcqsW-I8PgnMbdOehZQyNM_E1lv6mSJzFMJPDbkQdg4c-cDCHNRKJiu3FoKm5QJdMIKBxX_c/s400/No+cinema.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5501241945648554178" /></a><br />IZA CALBO<br /><br />Eu amo a minha doce serenidade de agora<br />A paciência que chega e não vai embora<br />Como se tudo fosse um filme<br />Roteirizado, dirigido e realizado por mim<br />Porque eu me enquadro na cena<br />E protagonizo o que há de vida<br />E que se duplica<br />Para que tudo seja editado<br />Com o glamour das estrelas<br />Que encarno<br />E que me faz seduzir o tempo em cada plano<br />Aproximando, revendo, refazendo a história<br />Com beijos que se vão<br />Beijos que se dão<br />Com a maestria da técnica que o amor não exige<br />Porque o que vale nesta tela de brinquedo<br />É estar atenta ao enredo<br />Escrito na hora<br />No assim e no agora<br />Em preto-e-branco<br />Em cor<br />Em close<br />Em detalhe que só a luz que ambienta<br />Pode e deve traduzir-me em risos!<br /><br />14-07-2010<br />Foto: Arquivo pessoalIza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-64774884306959362372010-07-10T22:35:00.003-03:002010-07-10T22:42:06.767-03:00A MORTE NO MORRO DE MARIA<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyta3fj1KjUrQX3q2_w2NrfWhEEjrtuI90haMrP6tepMCA26Vr19GlX6P4_OZRMkV9HAASOE4Jp9QbX16Hj0iokm_m2otdz4rL2F8MtLQ2hHevlkwHVOTzBmYuVl7m8aRfOom4RuyHmV8/s1600/morte_morra_medo.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyta3fj1KjUrQX3q2_w2NrfWhEEjrtuI90haMrP6tepMCA26Vr19GlX6P4_OZRMkV9HAASOE4Jp9QbX16Hj0iokm_m2otdz4rL2F8MtLQ2hHevlkwHVOTzBmYuVl7m8aRfOom4RuyHmV8/s400/morte_morra_medo.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5492457796758836706" /></a><br /><br />IZA CALBO<br /><br />Morando no Morro do Águia, há mais de 30 anos, Maria não tinha expectativas com relação ao futuro. Os filhos mais velhos viviam do tráfico de drogas, e os mais novos eram usuários e “aviões”. O marido, José, um pedreiro sem carteira assinada, fazia “bicos” para trazer pão para casa. Ela, para aumentar os parcos ganhos, costurava, limpava, passava e lavava para os outros. Embora tivesse 40 anos, tinha a feição marcada pelas rugas de uma preocupação incessante, e também por não sentir-se mais amada e muito menos mulher. Não raro, apanhava do marido, que, bêbado e trôpego, descarregava nela suas frustrações. Como se ela já não as tivesse de sobra.<br />Era comum viver marcada pelos murros e empurrões. Como era igualmente normal ser tomada à força e abrir as pernas sem vontade, para um sexo violento e sem nada que beirasse os seus desejos. Vizinhas mais antenadas com os direitos das mulheres citavam para ela a tal Lei Maria da Penha, aconselhando-a dar queixa daquele homem, ou mesmo dos filhos mais velhos, igualmente violentos e desrespeitosos. Maria, contudo, não ousava abrir a boca. Tinha medo de voltar, e sabia bem que não seria acolhida, a menos que as agressões a deixassem à beira da morte. Vivia, então, seus dias de medo. No final da tarde, fazia uma sopa rala e um café insosso, e esperava a chegada do pão para alimentar os quatro filhos caçulas. Eram dez ao todo. E apenas uma menina, Helena, a mais nova, de um ano e dois meses.<br />Maria não saía muito do barraco, nem era de ficar de prosa com a vizinhança. Confiava apenas em Cida, comadre de longas datas, a quem confidenciava as amarguras do dia-a-dia. Cida era prostituta, e José não gostava da amizade de Maria com ela. Por isso, só se viam quando tinham certeza da ausência de José, ao longo do dia. Afora isso, se entreolhavam, mas não trocavam palavra. Sabia, no entanto, da queda de José por Cida, e das vezes em que o dinheiro ganho nos “bicos” havia ido parar no sutiã da comadre, guardado entre os seios já flácidos daquela puta de todos os homens do morro. Não se incomodava com isso. Afinal, Cida não escondia, e José muito menos.<br />Num dia acizentado, escutando as notícias de um programa sensacionalista, em sua TV velha e cheia de rabiscos, Maria escutou acerca de uma execução e da morte de quatro jovens. Estava costurando e olhou para a imagem. De imediato, reconheceu a tatuagem de um dos filhos, e saiu feito louca para ver o corpo ainda à espera do Instituto Médico Legal (IML). Lá, encontrou não apenas George, como Vladson, Francisco e João, quatro das suas dez crias. Todos perfurados por balas numa cena dantesca. Não se aproximou demais. Apenas viu a morte anunciada, e uma lágrima marcou-lhe a face. Onde estariam Norberto e Ademário? Deu às costas, e voltou para o barraco. Sequer tinha uma vela para acender, e talvez, se a tivesse, não o fizesse. Os filhos eram brutos. A tratavam como a um trapo, entre empurrões e xingamentos.<br />Os três caçulas, Robson, Roberto e Radson chegaram chorando no barraco. Ela não fez nenhuma pergunta. Tinham 13, 14 e 15 anos. A pequena Helena era “raspa de tacho”, pois, desde o nascimento dela, Maria frequentava o posto de saúde, e, sem pedir permissão a José, usava pílulas anticoncepcionais. Não queria mais pôr filhos no mundo. Filhos que, pensava, logo se voltariam contra ela. Não demorou para José entrar afobado no barraco, falando da desgraça que se abatera na família. Como se ele pensasse assim! Maria sabia: por dentro, o marido estava dando graças a Deus, por se ver livre dos filhos traficantes, que, muitas vezes, o haviam agredido moral e fisicamente. Mas José chorou, e acabou aparecendo na TV falando da dor de um pai em perder seus filhos. Maria viu aquilo com ar de nojo. E, mais, José jurou se tratar de meninos bons, bem educados e livre do miserável mundo das drogas. Obviamente, a reportagem associou a execução ao tráfico, não dando também muita importância à morte de quatro supostos delinquentes.<br />Naquele dia, Maria observou o que restara: Noberto, Ademário, Robson, Roberto, Radson, Helena e José. No dia seguinte, enterrariam George, Vladson, Francisco e João, no cemitério da Quinta dos Lázaros, na ala reservada aos pobres. Os caixões foram doados pelo programa de TV, a pedido do pai, e a cova rasa os esperava no chão de barro do lugar cheirando a morte. O enterro também foi televisionado, e o repórter afirmava que a mãe estava em estado de choque. De onde ele tirara isso? Maria estava lá, por obrigação, e em estado de alívio. Voltaram num ônibus fretado pelo traficante e dono do morro. Não trocaram palavra. Maria apenas tirou o seio murcho e amamentou Helena.<br />Duas semanas depois, tudo parecia ter voltado ao normal. José agora bebia mais, porque, sem quatro filhos, o dinheiro dos “bicos” parecia sobrar, embora faltasse tudo em casa. Pagou para comer a comadre puta; deu uma surra em Maria, num sábado qualquer, sem motivo aparente, e, por pouco, não matou a pequena Helen,a derrubando-a do colo, numa tentativa de brincar de pai amoroso. Dos seis filhos ainda vivos, Maria parecia se preocupar apenas com Helena, e, pensando nisso, pediu a Cida que levasse a pequena para longe dali. Cida retrucou: - Como você vai explicar ao compadre, mulher? Ela disse apenas: Leve ela daqui. E assim foi feito.<br />Ao chegar em casa, José perguntou pela caçula, e Maria, aos prantos, avisou que a menina havia sumido. Mal terminou de falar, e já tomou o primeiro murro, perdendo mais um dente. Depois, ouviu todos os xingamentos, e viu José sair para reclamar no Posto Policial sobre o desaparecimento. E assim Helena entrou para a lista de crianças desaparecidas, sem ter uma foto sequer para servir de identificação. Com a boca ainda inchada, Maria saiu na manhã seguinte até a Feira de São Joaquim. Pediu chumbinho numa barraca, substância com venda proibida e usada para matar ratos. O chumbinho era vendido sem nenhuma fiscalização. Bastavam-lhe dois pacotes.<br />Á noite, com os dentes que restavam a lhe doer e a mama cheia de leite, colocou chumbinho na sopa rala, e esperou todos chegarem para servir, com a desculpa de que ainda não aprontara a comida. José chegou por último. Maria sabia que pelo menos outros três filhos deviam ao traficante, e, quase em súplica, naquela tarde, pediu ao homem uma solução. Ele, mesmo acostumado à violência, não entendeu o desespero daquela mulher de boca inchada. Mas ela explicou o que iria fazer. A ele bastava que ele mandasse seus “soldados” invadir o barraco, e, mesmo que todos já estivessem mortos pelo veneno de rato, fossem metralhados.<br />Ele achou que estava errado, mas também disse não estar muito incomodado. Quando todos estavam tomando a sopa, os homens entraram com seus fuzis. Alguns já estavam sentindo dores, mas os tiros certeiros em pontos vitais trouxeram o esperado descanso. Maria, a última a ser morta, olhou e guardou aquele sangue nos olhos semicerrados. No dia seguinte, a TV anunciou a chacina da família dos quatro jovens, que, no mesmo mês, haviam sido executados. Todos foram associados ao tráfico, e o inquérito dado por encerrado. <br />Ao saber do fato, Cida saiu em direção a uma casa que tinha num bairro pobre da cidade, e embalou Helena como se a uma filha. Deu a mamadeira da afilhada, e rezou uma Ave-Maria, pensando na aflição da comadre. Pelos outros, não teve sequer pena. Nem mesmo dos outros dois afilhados. Deitou-se ao lado de Helena, e dormiu sem pensar no enterrro, ao qual não compareceria na manhã seguinte.<br /><br />Imagem - InternetIza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-45139043900066779402010-07-10T22:27:00.003-03:002010-07-10T22:35:37.087-03:00ASAS PARTIDAS<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVjYEj_V6RWvR2Epi8DpaX6KHFShDBl-fpv6d_Cod3Y_uAsK0ok4CQckUSHOeMfbE_ro0obPOnW5YUvklFxWmIycvNwZR2jXW725_vNStjj-h2XE0qQm3pbxznFxscfrNpeDw1HZLoh7g/s1600/almas.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 337px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVjYEj_V6RWvR2Epi8DpaX6KHFShDBl-fpv6d_Cod3Y_uAsK0ok4CQckUSHOeMfbE_ro0obPOnW5YUvklFxWmIycvNwZR2jXW725_vNStjj-h2XE0qQm3pbxznFxscfrNpeDw1HZLoh7g/s400/almas.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5492455875200043042" /></a><br /><br />IZA CALBO<br /><br />Desde a primeira troca de olhares, Carolina sabia que não iria parar. De súbito, um calor tomou seu corpo e um tremor a fez querer ter aquele homem junto a si. Fabro tinha olhos cor de água, uma boa musculatura, ombros largos, esguio... Tudo na medida exata. Isso fazia as palmas das mãos de Carolina se apressarem em carinhos no pássaro desenhado naquelas costas. Mas onde daria aquela história? Algumas casas os separavam, e, numa delas, havia mulher e filho a esperá-lo. Ficaria a amante resignada? Ou, depois de contatos mais íntimos, a saudade se tornaria fúria a cutucar-lhe a alma?<br />Não sabia. Queria pisar fundo no acelerador perigoso dos encontros furtivos. E não demorou muito para Fabro bater à sua porta. Carolina nem pensou. Abriu e o recebeu como se o conhecesse há muito. E, para espanto dela, a pequena poção de sexo foi extenuante. Os corações disparados, o suor de ambos confraternizados num abraço sem definições. Após três encontros, Carolina não teve mais notícias de Fabro. Olhava pela janela; esperava os passos; as batidas na porta... Nada!<br />Soube, então, que ele se mudara para outra cidade. Isso quatro dias após o terceiro encontro. O mais intenso. Por que Fabro não falou que partiria? Que morbidez esta a de deixá-la a esperar no sótão? Relembrou apenas uma frase dele, antes de escapar sorrateiro: - Vai demorar um tempo para nos vermos de novo! Entendeu esse tempo como algo entre 10 ou 15 dias. <br />Não hesitou em iniciar uma caçada por notícias mais concretas. Perguntou discretamente aos vizinhos sobre aquele homem com um pássaro colado nas costas. A saudade, transmutada em fúria, parecia ter se tornado uma presença indomável. Soube que estava numa cidadezinha do sul do País, não muito longe. Juntou as informações, como quem recorta palavras e escreve cartas de resgate. Já tinha o endereço. Era o bastante.<br />Passou a morar perto dele, olhando-o à distância. Não demorou a vê-lo bater em outras portas e fazer amor a toque de caixa. Ou bater em algumas portas, e só sair pela manhã, após uma noite inteira com outra. Isso a encheu de ira. Uma ira sem controle. Lá estava o homem com o pássaro nas costas. Lá estava o homem com olhos transparentes. O homem que ela desejava, mas que era um perdido em vielas sujas, becos, buscando prazeres nas drogas e nas mulheres da vida.<br />A partir daí, a vontade de cortar as asas do pássaro passou a ser uma obsessão. Carolina, sem desconfiar deste lado negro e vingativo, passava horas a assistir filmes de assassinato. Estava movida pela fúria do ciúme, provocada por uma saudade sufocante. Resolveu voltar a seu sótão, a fim de não levantar suspeitas. Passou a conversar com as pessoas pela internet, demonstrando estar bem, ainda que só. Mas, pelo menos durante uma semana, ela ia até onde Fabro estava, e se instalava numa pensão de quinta, para acompanhá-lo em suas aventuras.<br />Numa destas vezes, o viu abraçar uma mulher de cabelos curtos como os seus, e rodopiá-la na despedida. Como fazia antes de deixá-la sozinha à sua espera. O sangue subiu ao cérebro, e seu coração tornou-se uma pedra de gelo. Naquele instante, exatamente a partir daquela cena, nada a impediria de urdir um plano no qual ele e seu pássaro estúpido deixariam de ser livres para sempre.<br />Embora ainda lembrasse ternamente dos três encontros e do sexo cheio de vigor, feito com horas contadas, algo havia se modificado na meiga feição de Carolina. Tão logo pode, rumou a uma loja e comprou algumas perucas e óculos, para poder andar mais próxima dele, sem ser notada. Numa destas investidas, Fabro chegou perto demais, mas ela saiu, como se não notasse a mão quase pousada em seu ombro. Não podia se dar ao luxo de ser descoberta. Não queria seguir humilhada pelas andanças de Fabro, cujas mentiras incluíam a de um casamento no qual era marido fiel até vê-la pela primeira vez. Fidelidade que durava, pelas contas dele, mais de cinco anos e que só havia se quebrado ela troca de olhares dos dois.<br />Como iria atraí-lo? Pensou em várias maneiras. A mais fácil seria pagar uma das moças para seduzi-lo, e dopá-lo. E depois? Como levá-lo de um lugar a outro? Decidiu alugar um quarto e sala, num beco sujo, onde boa parte das moças que ele levava para a cama morava. Era um quarto sem quase nada. Uma cama de solteiro de madeira velha, um abajur, uma penteadeira antiga, uma cadeira, um banheiro com uma cortina lamacenta no box, uma geladeira caindo aos pedaços e um fogão igualmente velho. As roupas de cama vieram juntas e cheiravam a mofo. Não havia uma área grande para estendê-las. Contudo, tudo poderia ser improvisado.<br />Como fez falsificando os documentos e o novo nome: Cassandra. A mulher desdentada não exigiu muito para alugar-lhe o moquifo. Apenas o adiantamento de um mês, mas ela lhe dera o de quatro, avisando que era para um amigo de prenome Fabro. Não queria manter contato. Precisava esconder suas feições, sua fala; evitar contatos desnecessários. Fabro estava quase sempre por perto. Trabalhava durante o dia; falava ao celular com a esposa, umas três ou quatro vezes por semana, e, depois, no tempo livre, entregava-se às mulheres e às drogas.<br />Carolina, agora Cassandra, passou a ficar num dos pontos de venda. Não puxava conversa com os outros, mas fingia ser usuária. Conheceu uma mulher gorda, de belo rosto, chamada Adriana. E Adriana falava demais. O que era uma bênção. Cabia à Cassandra apenas escutá-la e esboçar acenos com a cabeça, ou murmurar poucas palavras. Adriana vinha de uma família rica, mas, viciada em crack, morava nas ruas. Para comprar a droga, fazia programas. O prazer que tinha quando usava era passageiro, e isso a forçava a aumentar o número de clientes para o seu sexo descuidado, sem uso de preservativo, e sem olhar a cara de quem a tomaria nos braços, em troca de R$ 15 ou R$ 20.<br />Adriana já havia estado com Fabro, não como prostituta, mas como parceira para dividir a efemeridade do chamado “beijo da morte”, ou crack. Não sabia bem qual o motivo, mas Fabro gostava de ficar ao lado dela. Talvez, por Adriana lembrar vagamente a mulher que deixara em casa. Esta comunhão poderia render o que Cassandra esperava. E não tardou a acontecer.<br />Numa noite meio chuvosa e fria, Cassandra ouvia as aventuras e desventuras de Adriana, quando Fabro se aproximou e ficou ao lado delas. O excesso de roupas, a peruca, a maquiagem e os óculos estranhos não permitiram a Fabro reconhecer Carolina. Além disso, havia o crack a embotar-lhe a mente. Neste dia, Carolina fumou um pouco daquela coisa maldita, enquanto Fabro perguntava-lhe sobre sua vida. Por sorte, Adriana se antecipava contando-lhe o que imaginava saber: - Esta é Cassandra, mas ela não se vende; até aluga um quarto. Perdeu um filho por causa das drogas, e veio parar aqui, na tentativa de esquecer.... Ela quase não se droga, não gosta da pedra.<br />Fabro perguntou se podia acompanhá-la até sua casa. Inicialmente, ela negou, mas saíram juntos, sem trocar palavras. No quarto, Fabro jogou-se na cama, e, apesar do frio, tirou a blusa. Deitou-se de costas e o pássaro parecia querer alçar vôo dali. Cassandra deixou apenas o abajur ligado, e entupiu a bebida de Fabro com sonífero. Ele sorveu rapidamente e disse: - Vem! <br />Cassandra ouviu a voz suave. Pensou desistir. Não podia. A fúria da saudade mesclada a tudo o que vira era maior. Despiu-se do disfarce e apareceu nua. Ele balbuciou: Eu a conheço... Mas Carolina/Cassandra ofereceu-lhe mais crack. Quanto mais ele fumava, mais queria. Os olhos cor de água começaram a revirar e a boca espumava. Ele se contorceu um tempo, e tombou de costas no chão. Mortos, Fabro, o pássaro e a pacata amante abandonada. <br />Cassandra saiu e, no dia seguinte, após quase quatro meses embalando o fim de Fabro nos braços, ao invés de usar a lan house, falou com os amigos do seu sótão, como a Carolina de sempre. Dois dias depois, soube da morte do vizinho por overdose, conclusão dos peritos, ao ouvir a dona do quartinho e os drogados das redondezas. Foi reconhecido pela esposa, por conta da tatuagem: Pássaro morto e sem asas!<br /><br />Imagem - IntenetIza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-32338796686159423442010-07-10T22:19:00.005-03:002010-07-10T22:53:02.080-03:00SEDUÇÃO E VENENO<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEjconU3G1d84SKRjGq1EhzuvDTshhBSj90RcQlcekJ7Y9Q1dd5vHpl7XCl-_VHC5v3p-ESdxmMyQX4hbpSsftJd2MMz0jmcXJi_NwG9SQN3u2KcP38zQQETIQLCtyUikEcCpBBlMUUjE/s1600/1247587853_viuvanegra_1.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 348px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEjconU3G1d84SKRjGq1EhzuvDTshhBSj90RcQlcekJ7Y9Q1dd5vHpl7XCl-_VHC5v3p-ESdxmMyQX4hbpSsftJd2MMz0jmcXJi_NwG9SQN3u2KcP38zQQETIQLCtyUikEcCpBBlMUUjE/s400/1247587853_viuvanegra_1.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5492453515440439506" /></a><br /><br />IZA CALBO<br /><br />Tudo parecia nulo na manhã de segunda-feira. O Outono a rondar os passos de Suzana e o coração aos saltos ensejando estar ao lado de Iago. Ela não sabia ao certo como explicar à Luiza, sua amante há mais de cinco anos, o repentino interesse por aquele rapaz de cabelos encaracolados e olhos beirando a mel. Os três se conheceram numa danceteria, e passaram a sair juntos. Suzana mantinha distância de Luiza, sob o pretexto de preservar a união e escapar ao preconceito. Luiza não se importava. Iago era tímido, mas ficava sempre com um olhar inquieto para ambas. Passar algumas horas com Suzana, algumas vezes por semana, e manter isso em segredo, era o pacto feito entre eles. Logo, Luiza não saberia de nada, e tudo se harmonizava.<br /> Luiza e Iago costumavam conversar. Mesmo quando Suzana se afastava. Havia entre eles uma luz perceptível a olho nu. Fácil de ser percebida de longe. Quando Iago estava trabalhando, Luiza e Suzana aproveitavam para tocar e trocar carinhos libidinosos. Moravam na mesma casa, e tinham um comportamento insuspeito. Para os vizinhos, eram boas amigas. A presença de Iago despertou a curiosidade. Qual delas era a namorada do belo jovem? Ninguém sabia. Em casa, eles jogavam, assistiam a filmes, e, após certo horário, Iago se despedia, deixando as duas mulheres com suas vidas de sempre.<br /> Mas Suzana não ficava completamente à vontade. Luiza parecia apática. Uma não perguntava nada à outra, e muito menos comentavam sobre Iago. Suzana era jornalista, e Luiza antropóloga. Iago trabalhava como web design, numa grande empresa, e todos eram financeiramente independentes. Isso permitia que cada um vivesse a seu modo, e nenhuma interferência iria (supostamente) abalar o cotidiano.<br /> Num sábado qualquer, Luiza e Suzana saíram para dar uma volta pelo bairro boêmio do Rio Vermelho, um dos locais mais movimentados dos dias e noites baianos. Suzana disse a Luiza que não havia conseguido falar com Iago, omitindo apenas a tarde passada com ele num motel, naquele mesmo dia. Luiza confessou haver tentado convidá-lo, mas também não disse por que chegara em casa após o horário de costume. Por volta da meia noite, no badalado Acarajé de Cira, Iago apareceu acompanhado de uma mulher, e as duas amantes não conseguiram disfarçar o constrangimento. Apresentou-a como uma colega de trabalho chamada Leila.<br /> Com algumas doses a mais, Iago e Leila passaram a demonstrar algo além da amizade, na troca de olhares e afagos. Reticentes, Luiza e Suzana metralharam a moça de perguntas, num quase interrogatório. Leila, sempre na defensiva, fingia não estar compreendendo tamanho interesse, e perguntou se as duas eram namoradas. O semblante de Suzana ficou bem mais pesado que uma manhã de Inverno. Luiza fingiu espanto e ofensa. E Iago, conciliador, negou qualquer tipo de relação que não uma amizade de muitos anos. Mas Leila insistiu e perguntou se elas tinham algum namorado. Afinal, eram jovens e bonitas. Ambas disseram que tiveram relações terminadas recentemente, e estavam aproveitando a vida.<br /> Iago e Leila deixaram o lugar, e as duas ficaram em completo silêncio, sem trocar palavra. Depois de meia hora, decidiram pedir a conta e seguiram para casa. Suzana deitou no sofá da sala e Luiza foi para o quarto. Amanheceram assim. No final do dia, receberam a visita de Iago e agiram friamente, como se houvessem combinado tal reação. Iago perguntou se havia algo de errado. Para ele, como elas eram namoradas, nada o impedia de acrescentar uma quarta pessoa a este conjunto. Contudo, elas não pareceram satisfeitas diante daquela mulher jovem, morena, sorridente e irônica. Calaram-se.<br /> No dia seguinte, Suzana marcou com Iago. No motel, despejou toda a raiva sentida no sábado ao vê-lo com outra mulher. Ele falou não compreender tal ataque de ciúme, se ela tinha uma vida ao lado de Luiza e ele não se importava. Discutiram um bom tempo, mas acabaram fazendo amor. Suzana, desta vez, não sentiu o mesmo prazer de antes, e perguntou se “transar” com Leila era bom. Iago respondeu que sim. Suzana bateu a porta e pegou o seu carro quase esbarrando numa grade de proteção. <br />Ao chegar em casa, não encontrou Luiza, mais uma vez atrasada. Onde estaria? Começou a se perguntar. Duas horas depois, Luiza apareceu e foi direto para o banho, mas Suzana a seguiu e quis uma explicação. Luiza disse que não a estava reconhecendo. Afinal, nunca exigiram nada uma da outra. Haviam prometido serem leais e fiéis. Suzana disse que não estava pensando nisso, mas Luiza disse que ela deveria.<br /> Aquele tom de Luiza e a sugestão dada por ela preocupou Suzana. Teria Luiza descoberto os encontros dela com Iago? Estranhamente, Iago passou a rarear as visitas e nunca tinha tempo para encontrar Suzana. Luiza continuava chegando fora do horário habitual, e parecia estar sempre alegre e disposta. Porém, estava se afastando dos afagos de Suzana. Havia sempre uma desculpa para evitar o toque: sono, indisposição, dor de cabeça... Suzana continuava a insistir com Iago, e marcaram um encontro em A Cubana, a sorveteria mais antiga de Salvador, ponto prestigiado no Elevador Lacerda. Suzana não quis crer, ao ver Iago se aproximando de mãos dadas com Leila, integrante do Balé Folclórico da Bahia. <br />Manteve, ainda assim, um tom cordial. Ou, pelo menos, tentou, até Leila dizer que havia muitas mulheres no grupo que se interessariam por ela. Suzana, num tom ríspido, reafirmou sua orientação sexual: hetero! E pode perceber um pequeno sorriso nos lábios de Iago. Saíram de lá sem conversar nada de concreto. Suzana para um lado e Leila de mãos dadas com Iago rumo ao Pelourinho.<br /> Em casa, Suzana tentou restabelecer o namoro com Luiza, mas este não era o assunto mais importante para a companheira. Luiza deixou-a sozinha e disse que iria à faculdade. Suzana resolveu segui-la. Nem acreditava no que estava fazendo. Depois de duas horas, para seu completo espanto, Leila entrou no prédio e, meia hora depois, Leila e Luiza saíram de carro. Suzana foi no rastro e viu quando as duas entraram num casarão antigo no bairro do Santo Antônio Além do Carmo. Depois de mais de duas horas, elas foram até Bar do Paschoal, de onde se via um pôr-do-sol estonteante, mesmo com as nuvens semicarregadas do Outono baiano. <br /> Inicialmente não entendeu bem. Depois, ligou para Iago e contou o que vira. Ele não demonstrou espanto. Disse que só podia ser coincidência e a chamou de neurótica. Aos poucos, Suzana começou a sentir-se mal. Tinha cólicas horríveis e quando falava disso a Luiza, a namorada mandava que ela tomasse um remédio qualquer. E ela assim o fazia, observando Luiza bater a porta sem piedade. O estado de Suzana se agravou e ela foi internada. Não por Luiza, mas por um vizinho. No hospital, nenhuma visita por dois dias. Os telefones de Iago e Luiza estavam sempre na caixa postal. No terceiro dia, Iago apareceu com Leila, e, meia hora depois, Luiza foi visitá-la. O médico não sabia qual o diagnóstico e sugeriu uma virose.<br /> De volta a casa, as dores recomeçaram. Luiza passou a lhe dar os comprimidos na cama. Suzana via aquilo como um gesto de amor. Dois dias depois, Iago e Leila apareceram e Luiza ficou à beira do leito. Suzana estava morrendo. Não queria ir a um hospital, e Luiza chamou um advogado que a fez assinar um termo de responsabilidade, além do testamento no qual deixava tudo para Leila e exigia ser cremada. Antes de morrer, tão logo o advogado se foi, Leila agradeceu beijou Luiza e Iago demoradamente. Ela não podia acreditar. Leila disse: - Tínhamos que nos livrar do quarto elemento. Somos felizes a três... <br />Suzana quis falar. Já não conseguia. Os comprimidos envenenados a estavam matando. O médico leu a papelada e constatou morte natural. Suzana foi cremada e as cinzas espalhadas por Luiza, Leila e Iago num passeio de escuna pela Baía de Todos os Santos, desejo da morta. Leila e Iago mudaram-se para a casa de Luiza e estabeleceram a realidade que esboçaram um ano antes de Iago encontrar Suzana e passar a encontrá-la secretamente. Era a face cruel da sedução finalmente concretizada.<br /><br />Imagem: NETIza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-20129700923398952822010-07-06T20:36:00.003-03:002010-07-06T20:39:03.529-03:00SÓ CINZAS<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicb8M4Pyp07HJnO2l3HYeRCRYhIKaa1KkPW6oW_oJ8_3WJOtwwsudD4c2LK0yeb6lUgpslGXVjoIfc6yBijCwqSW0YRygixhxTKl61iGAOElmY_SXZCQ__MQUoniytb71hy7_YpHMS0OE/s1600/100_2522-1.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 356px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicb8M4Pyp07HJnO2l3HYeRCRYhIKaa1KkPW6oW_oJ8_3WJOtwwsudD4c2LK0yeb6lUgpslGXVjoIfc6yBijCwqSW0YRygixhxTKl61iGAOElmY_SXZCQ__MQUoniytb71hy7_YpHMS0OE/s400/100_2522-1.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5490941747643920082" /></a><br /><br />IZA CALBO<br /><br />Este ano não tem fogueira<br />Nem milho na brasa<br />Nem sua alegria de menino<br />A brincar de fogos<br />Não tem mais nove gatos<br />Nem a noite imensa do passado.<br /><br />Este ano não vamos ver o mar<br />Nem vamos nos amar<br />Quando quase amanhecer<br />Você partiu<br />Eu fiquei<br />Sem nada a declarar<br />Com dois gatos<br />Sem milhos na brasa<br />Nem fogueira para te ver queimar fogos<br /><br />Apenas eu<br />Os gatos<br />E a noite aprisionada<br />Numa lua por entre nuvens<br />Esta sim quase como no ano passado<br /><br />No mais<br />Nem sua camisa quadriculada<br />Nem nossos chapéus<br />Para brincar de guardar fotos<br />Que já deletei há alguns meses<br /><br />Você com ela<br />Eu aqui<br />Só e aqui<br />Simplesmente saboreando<br />Gotas de licor<br />E tentando entender<br />Porque tudo sempre acaba<br /><br />Como não vou entender nunca<br />Deito-me na cama<br />E tento não me lembrar de mais nada<br />Porque não vale a pena<br />Porque você não vale a pena<br />Da minha saudade<br />Em cinzas tecidas.<br /><br />Pronto. Adormeci!<br /><br />Foto: Arquivo pessoalIza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-64226731866717417972010-06-23T22:21:00.003-03:002010-06-23T22:23:49.309-03:00CLAUSURAIza Calbo<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-7zhgCL4jfAzE15FmGxQLmGF9iyDFNQYypNM-bVm32FTlDtnUoPEhhVSNKC54SEek5gGbVhK1VVn2rwvQSi-n5z6mcUkX_ju1bO6tV3hE24lQu6kORDBtkiX0RQtW830JL6mPjydXGfg/s1600/iza5.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 250px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-7zhgCL4jfAzE15FmGxQLmGF9iyDFNQYypNM-bVm32FTlDtnUoPEhhVSNKC54SEek5gGbVhK1VVn2rwvQSi-n5z6mcUkX_ju1bO6tV3hE24lQu6kORDBtkiX0RQtW830JL6mPjydXGfg/s400/iza5.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5486144323509756594" /></a><br /><br />Começa a anoitecer e não há nada por trás das nuvens<br />No casulo intempestivo dos desejos<br />Somos castos e sonoros como ventos intransponíveis<br />E, enquanto o entardecer entorpece,<br />A alma procura resoluta o teu avesso<br /><br />Não te chamo pelo nome, porque te teço de encanto<br />Os pássaros tontos são, todos eles, mudos<br />Então calo-me também para que não os afugente<br />Com a beleza pela qual te proclamas<br />Sei que estás perto, sei que estou longe<br />Há mistério em todos os véus que dispo<br />Em todos os cantos que meus pés desviam<br />E é bom estar longe do solo que também pisas<br />Vez ou outra desenhando trilhas<br /><br />Não, não quero a sensatez do amor perfeito<br />Quero a dor do querer estilhaçado<br />E é sempre assim quando distante me deito<br />Na cama que arrumei para te colocar ao lado<br /><br />Também dispenso o teu beijo de outra boca<br />E finjo não ver que te transformas em incógnita<br />Todas as vezes em que meus lábios sentem o beijo recente e desconhecido<br /><br />Acostumo-me a te ter assim aos poucos<br />A te consumir lentamente<br />Quase como se fosses desaparecer de repente<br />Como às vezes o faz solenemente <br /><br />Talvez beba assim o pecado mais sutil<br />E me deixe levar pelo veneno mais mortal de todos:<br />O de te amar sem nada esperar e seguir esperando que me ames<br /><br />Minha face rubra de estupidez<br />Entrega aos passantes a condição de amante<br />E tonta e sem saber por onde ir<br />Cato nas fontes perdidas das cidades<br />Uma água que me mate, mas não de sede<br /><br />Aprendi a ficar só e à espera<br />Só e inutilmente<br />Cavoucando nos papéis que escrevo e amasso<br />Um amor que nem sei se sentes<br /><br />Rasgo trechos inteiros de intenções<br />Por que na poesia deste descompasso<br />Não encontro a verve do amar que traçoIza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-65378325518989228772010-06-23T14:27:00.001-03:002010-06-23T14:30:04.139-03:00<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDD24KP2t2LfEMZM_hyphenhyphen1oR4u_Qmm7lxwhZ_NEcFdiWaKFhdmj6zuKwQ0LZnGWXUyI588F5yyl6QLd2GReo9PL4fV7jhAObZOq8-Rl-56ewET0hVPve8S3Sp7Fca0DWLHlphyphenhyphenxSY3c-XV4/s1600/20100623104232E1RPy.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 302px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDD24KP2t2LfEMZM_hyphenhyphen1oR4u_Qmm7lxwhZ_NEcFdiWaKFhdmj6zuKwQ0LZnGWXUyI588F5yyl6QLd2GReo9PL4fV7jhAObZOq8-Rl-56ewET0hVPve8S3Sp7Fca0DWLHlphyphenhyphenxSY3c-XV4/s400/20100623104232E1RPy.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5486022304260980962" /></a><br />DO ENCANTO<br />Iza Calbo<br /><br />“A maior besteira da vaidade está em achar que o outro se encontra desarmado. O encanto mata! " (IC)<br /><br /><br />Sorria do teu riso pela paz que ele me acenava<br />Tocava teus lábios porque neles via apenas alegria<br />Nunca imaginei que da tua boca ouviria palavras torpes,<br />Muito menos que o teu riso se desfaria em gritos alucinados.<br />Já não te reconheço<br />Já não te quero ver<br />Já não te quero mais<br />O tempo segue embaralhando as cartas do velho baralho<br />Mas já não temos mais como jogar <br />Não há nenhum ás escondido nas mangas<br />Muito menos a possibilidade de voltar à mesa do jantar<br />Catamos nossos cacos e não foi suficiente<br />Pedaços minúsculos da taça foram perdidos para sempre<br />E não temos como brindar nada em meio a tamanho desencantamento.<br />Estamos separados de corpos e de fato<br />Não mais nos abraçaremos repletos de saudades<br />E embriagados de nós mesmos<br />Seguimos, agora, em direções opostas<br />E eu já não preciso mais te olhar<br />Nem zelar por ti<br />Ganhaste o espaço de novo<br />E nos perdemos nesta imensidão<br />Que dobra a esquina sem olhar para trás<br />Não desperdice palavras<br />Nem tente bordar enfeites inexistentes<br />Até o passado vai ficando embaçado<br />E o teu riso, antes a marca da tua/nossa alegria<br />É agora uma lembrança perdida na neblina<br />Das esperanças sem acalanto.<br /><br />Imagem: Fotomontagem/NetIza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-50007967765284907382010-06-05T17:45:00.004-03:002010-06-05T18:48:21.721-03:00A MENINA E O BRANCO<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1HTLqun7Eue5MvA6liOBtfnXzFEmo7RR2xvTYV-QQKfhFXgDXCtklL7nWUeadrL73yUWJnm_ftTlUMGpvdG9Vr__M5QYGtho0-xyLCZy_XcB2eTrLRYixui1wQH4_dLBU3rJLVPunICQ/s1600/Foto+em+branco2.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 223px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1HTLqun7Eue5MvA6liOBtfnXzFEmo7RR2xvTYV-QQKfhFXgDXCtklL7nWUeadrL73yUWJnm_ftTlUMGpvdG9Vr__M5QYGtho0-xyLCZy_XcB2eTrLRYixui1wQH4_dLBU3rJLVPunICQ/s400/Foto+em+branco2.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5479394031197491826" /></a><br />IZA CALBO<br /><br /><br />Sábado.<br />Nada parece ser o que é.<br />Os bêbados na esquina.<br />As frutas vendidas em bancas nas ruas.<br />Os sorrisos apressados.<br />O quase atropelo do homem maltrapilho.<br /><br />Passo esmalte azul nas unhas.<br />Minhas mãos, assim coloridas,<br />Despejam palavras sem vértebras no papel.<br />O amor passou por mim<br />E eu sequer notei.<br /><br />Talvez o cheiro cítrico do incenso<br />Tenha embotado a minha capacidade de sentir.<br /><br />Olho a foto.<br />Tudo está branco.<br />A menina pousada no sofá<br />Esbanja curvas sinuosas<br />Que percorrem a lente da câmera<br />E se eternizam ali. Para sempre.<br /><br />Olho de novo<br />E busco detalhes...<br />Os pés pequeninos<br />A displicência quase inocente<br />Da menina que ama mulheres<br />E se entrega às amantes<br />Num quase acinte ao que penso ser sensatez.<br /><br />O plano é perfeito.<br />O branco é exato. <br />E a menina?<br />A menina não sabe ter sido flagrada em sua inocência.<br /><br />Somente isso explica a beleza distinta do momento<br />Como se a bela pequena fosse uma divindade<br />E talvez o seja.<br />Olhando a foto, em preto-e-branco enfatizada<br />A personagem central do foco<br />Parece deitada,<br />Num ângulo de cachoeira...<br /><br />Pode-se sentir a água doce.<br />E tudo que a menina exala<br />Provocando ora candura, ora espanto<br />Seria mãe ou filha-de-santo?<br />Seria quadro pintado a mão?<br />Folhinha de borracharia? Propaganda de revista?<br /><br />Ninguém sabe.<br />Sabe-se apenas que, é FATO:<br />A FOTO encanta.<br /><br />PS: Para Leila MachadoIza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-13090568310219953872010-06-04T18:49:00.001-03:002010-06-04T18:52:21.194-03:00CARTA DO FIM<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFn83Laypqfqy_Oj9qDGK0KeEEmYNGq6-5Pz0yM2j1GUDD89OhGw1x0xX571dbdymWhE3BbV69NPPet35WPszgPCHAE1RQHTfZ8Q76ni1SlzetgEyJo0Velm6W0GSprRput7SEwTsy0is/s1600/FIM.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 226px; height: 170px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFn83Laypqfqy_Oj9qDGK0KeEEmYNGq6-5Pz0yM2j1GUDD89OhGw1x0xX571dbdymWhE3BbV69NPPet35WPszgPCHAE1RQHTfZ8Q76ni1SlzetgEyJo0Velm6W0GSprRput7SEwTsy0is/s400/FIM.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5479039575112264770" /></a><br /><br />IZA CALBO<br /><br />Salvador, Bahia Brasil, 04/06/2010<br /><br /><br /> Bethânia enche o pequeno sótão de sentimento. Já não estou sozinha. Não agora. Relembro coisas, paisagens, momentos. Pessoas que foram, que são, que podem vir a ser. A falta do seu olhar bobo de anjo. O corpo estirado à espera de sexo. O sexo jogado no sofá como uma manobra de xadrez. O gozo imaginado. As imagens que excitam; o disparar do coração dilacerado...<br /> Tudo parece estranhamente belo. Como escrever usando caneta e papel para, só depois, usar o asséptico teclado do computador. A casa tão cheia de mim, que de tão vazia já nem sei quem sou. O cheiro do café que fazias e que já não faço. O pão quente que trazias e que aboli da casa como se a me livrar de tudo que nos lembre ou que te lembre.<br /> Contudo, apesar destes desvios propositais; do feijão feito sem esmero porque comer sozinha (o) é aprender a não se importar com o sabor... Apesar de tudo isso, volta e meia esbarro no teu traço rude; na tua boca sempre pronta ao beijo; no meu medo de que partistes. E vejo, então, que nada impediu que outra pessoa viesse e te levasse pelas mãos e se metesse entre seus braços. E as mãos que só segurávamos como nós, até estas se perderam das minhas. Restou apenas a lembrança do toque, do jeito de entrelaçar os dedos e sair rua afora em busca de qualquer caminho.<br /> Sempre sentirei saudades. Até mesmo do que não vivemos. Porque guardei os teus olhos para o eterno e a tua falta para o abismo. Meu desespero virou passatempo. Meu sorriso, escassez. Só restaram algumas fotos já deletadas; o sabor inesquecível do amor que dizias sentir... E mais nada.<br /> O relógio vive parado. Melhor assim. Não gosto dos ponteiros passando; do tic-tac; da sua exatidão tão inexata. Na parede do quarto, deixei o vazio. Não ouso preenchê-lo. Na pequena sala, algumas coisas de um passado sem volta; de uma amargura que grita até quando a vida parece calar.<br /> Nunca mais te olharei nos olhos. Nem tocarei tuas mãos, muito menos teus cabelos finos. O anjo que encontrei na esquina morreu de overdose. Tomou falsas promessas em excesso e agonizou diante de mim, acolhido por uma pessoa qualquer que não fazia parte desta história. Uma história que deveria durar, ainda que o meu tempo estivesse adiante do seu. Adiantado mesmo, ainda que todos os relógios do mundo parassem.<br /> Salvador, 18 horas. Caetano canta. Chove, porque no Outono a chuva insiste em se esfregar nas janelas e o vento canta uma canção esquisita, quase atrapalhando o som da sala. O som que ouvíamos quando chegávamos do mar, temperados de sal e sol. A vida é assim: uma interrupção seguida de outra até que a morte chegue enchendo o vazio com um vazio ainda maior e mais intenso: o fim de um de nós.<br /><br /><br />Abraços e um toque nas tuas mãos. Até isso me negaste.<br /><br />Imagem: InternetIza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-69190312214276354382010-06-04T16:11:00.005-03:002010-08-03T15:04:27.990-03:00A QUASE MORTE DO AMOR<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghzP7Dwob51v0EIGAhF7V6hJOd05U0vRuEPW1ropD91anLVFRWxre4BZ8xEAEccqFAvGXHauFlW8Ih4PZlNVbHuoE2nfbrkgZnSqZQtILgnyMeNto39uOgjQGumTjgU5K23o3ShToOMnI/s1600/Meu+cansa%C3%A7o2.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 350px; height: 328px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghzP7Dwob51v0EIGAhF7V6hJOd05U0vRuEPW1ropD91anLVFRWxre4BZ8xEAEccqFAvGXHauFlW8Ih4PZlNVbHuoE2nfbrkgZnSqZQtILgnyMeNto39uOgjQGumTjgU5K23o3ShToOMnI/s400/Meu+cansa%C3%A7o2.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5501245458968713250" /></a><br />IZA CALBO<br /><br />Parei de amar para não matar o amor<br />Deixei um algodão doce sobre o mármore da cozinha<br />Para que sentisses a minha partida como a um parque de domingo<br />Não fiz as malas. Não levei as coisas que eram minhas. Parti quieta<br />Quase como quem enlouquece no meio da noite e de si mesmo.<br />Não quis estragar o teu sorriso lindo com um quê estranho de espanto.<br />Toquei-te suavemente evitando que acordaste<br />Não quis que me visses dar as costas<br />Porque não era o pretendido.<br />Sinto ainda teus dentes alvos arrancando pedaços do meu corpo<br />E o teu jeito sereno de pedir carinho em meio ao pranto.<br />Parei de amar o amor que estava adoecendo<br />O amor que uma vez parou na porta do quarto<br />O amor que não chegamos a fazer.<br />Parei de amar o amor que levei embora e que guardo em mim<br />Como a um anjo desesperado com asas arrancadas sem prévio aviso.<br />Ao parar de amar o amor, parei de fingir não amar-te<br />E colei o amor casto, intocado, numa das estantes do meu ser sem sentido<br />E, assim, matando o amor que tanto amo,<br />Perdi o senso do que poderia amar além do amor quase morto.<br /><br />IMAGEM: WEBIza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-48390619382525464252010-06-01T18:48:00.003-03:002010-06-01T18:50:56.316-03:00SER<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSjUeKWDGH9PBQ4S6PvXkakfZ5SrTJGxb30xDGeRAye0COGLoVhrWVrIWuD3xbtGirt6W9DPCwxNKMKqsUd6h7oPQCY8dxnK6iPF8tYYLTdvvusEcCOggKE5ySHZrywiYr4QJJJqz-1KI/s1600/gotica35.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 351px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSjUeKWDGH9PBQ4S6PvXkakfZ5SrTJGxb30xDGeRAye0COGLoVhrWVrIWuD3xbtGirt6W9DPCwxNKMKqsUd6h7oPQCY8dxnK6iPF8tYYLTdvvusEcCOggKE5ySHZrywiYr4QJJJqz-1KI/s400/gotica35.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5477925860849140098" /></a><br /><br /><br />IZA CALBO<br /><br /><br />Tem quem viva para ser feliz e quem viva para ser algoz de si mesmo<br />Tem quem nos deixe em paz e tem quem faça questão de mostrar a paz como algo inacessível<br /><br />Tem filhos que merecem os pais que tem, pais que não merecem os filhos que tiveram<br />Tem Homens que nos fazem sentir gente e os que fazem com que queiramos, a todo custo, sair correndo para um lugar aonde nada chegue até nós<br /><br />Tem os traidores; os traídos; os inocentes; os bandidos<br />Tem até quem se ache superior e apto a julgar todas as nossas ações sem olhar para as próprias<br /><br />Tem quem desatine e quem pense duas vezes antes de calar<br />Tem quem mereça viver, crescer, parir para sentir na pele todas as contrações dos partos malditos<br />Porque talvez deste modo, estes seres possam entender o amor na sua plenitude sem ter a coragem<br />de dar o primeiro tapa e causar o primeiro assombro<br /><br />Tem quem deixe saudade e tem quem não nos faça sentir absolutamente nada, <br />a não ser o desejo de ser completamente apagado daquela cena vivida ou não<br />Tem mulheres que se submetem; homens que roubam infâncias; crianças que permitem ter suas infâncias perdidas; mães que consentem; pais que se calam; irmãos que se amam e irmãos que se matam<br /><br />Tem de tudo neste mundo. Mas tem a chamada escolha e, por sermos frutos destas, devemos carregar fardos insuportáveis ou viver leves e com a sensação plena de que voar é, sim, algo viável<br /><br />Tem quem busque a faca amolada para tirar vidas e quem a use apenas para preparar um bife a ser servido no almoço em família. Há quem porte arma e há quem porte palavras suaves mais eficazes que um tiro na fronte.<br /><br />Tem aquele dia em que seria melhor não acordar; não atender ao telefone; não sonhar com um novo amor; não lamentar os amores perdidos<br /><br />Tem razões e sem-razões<br />Possibilidades e falta destas. E, para sorte de muitos, tem a tal da sorte que alguns carregam como a uma estrela pregada nos pés.<br />Pessoas que trilham somente os caminhos mais brilhantes e as que se deixam matar, aos poucos, embaixo das marquises.<br />Tem quem use drogas e tem quem não ache graça alguma em viver com a mente embaçada de ilusões efêmeras.<br /><br />Tem quem trague o seu cigarro e tem quem traga vida a nós. No mais, se tem o SER que pode ser humano e deixar impressões delicadas por onde passe <br />E tem os que desconheçam o prazer da humanidade e, por isso, semeiem sempre tempestades ainda que se refugiem em preces e suplicas sem saber ao menos que existe algo maior que a insanidade do dia a dia.<br /><br />Tem você, eu, ele, ela, aquele, aquela e os que são chamados de ninguém. Mas tem aquele ninguém que, um dia, sem saber por que, descobre que pode ser BOM e DIGNO. A estes, por maior que seja a distância, serão sempre chamados e amados como AMIGOS.<br /><br />Aos meus AMIGOS boas-vindas. Aos inimigos, uma prece para que descubram em si mesmos que o ressentimento é uma cruz pesada e espinhenta e que não vale a pena carregá-lo porque, quem tem coração, jamais será cortado pela insensatez dos seres ditos sem luz. <br /><br />E, para terminar, tem a luz para quem quiser sair das sombras<br /><br />Imagem: InternetIza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-561258400468717952.post-56750929740000781332010-05-28T16:01:00.006-03:002010-06-05T18:45:49.120-03:00A QUEM INTERESSAR OU PARA THAIZE<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0Z3zMnAbHlIUDOf9k8LPVUAfFdrFyuiahF_fKwcfp-8RFO1Vklf4gYe49BGbOKbB0DzPApuNl2joy7K-j8fXhLkoX1LnxWGC9yQ0PLE6m5aMy9gDjT1Fa3olEKEln3FlHaVS7zhKUTCU/s1600/29.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 384px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0Z3zMnAbHlIUDOf9k8LPVUAfFdrFyuiahF_fKwcfp-8RFO1Vklf4gYe49BGbOKbB0DzPApuNl2joy7K-j8fXhLkoX1LnxWGC9yQ0PLE6m5aMy9gDjT1Fa3olEKEln3FlHaVS7zhKUTCU/s400/29.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5479405717256626082" /></a><br /><br /><br />IZA CALBO<br /> <br />Eu só queria que você me amasse<br />Que não esperasse nada além<br />Que nunca tivesse crescido e começasse a pensar<br />Que entendesse<br />Que nunca, em momento algum<br />Desejei que alguém te fizesse mal<br />E que se o fez<br />Foi sem que eu tivesse consentido<br />Que a tua voz de mágoa<br />Me tira o sono<br />Me enruga a tez<br />Eu só queria que nós fossemos<br />Mãe e filha<br />Só isso<br />Rindo, comendo e bebendo juntas<br />Ainda que muitas coisas estivessem erradas...<br />Eu não queria ser julgada sem defesa<br />Condenada por você assim<br />Sem um ato sequer de explicação<br />Se fiz algum mal<br />Foi para tentar te proteger<br />Jamais imaginei<br />Na candura do possível PAI<br />A mão ambígua do inimigo.<br />Mas se nada disso vês!<br /><br />Porque passo noites insones<br />A imaginar como seria<br />Se tivéssemos permanecido<br />No próprio caos?<br />Jamais quis te colocar no Inferno<br />Mas o fiz sem querer<br />E o demônio virou anjo<br />E eu... Diabo<br />Que assim seja então....<br />Não vou te pedir perdão<br />Porque palavras são ladras<br />E não quero roubar-te as certezas<br />Que carregas sem, ao menos,<br />Questionar as verdades.<br />Vai. Fica em paz e sem mim.<br />Só fiz te amar mais e mais...<br />Mereces-te?<br />Claro.<br />És a única com inocência neste URDIR de verdades sem<br />explicações.<br /><br />Imagem: NETIza Calbohttp://www.blogger.com/profile/14627505130475220705noreply@blogger.com2