terça-feira, 21 de agosto de 2007

BREVE


Tocar teus lábios...
Mariposa cálida,
Sorver atenta
O mel que te envolve,
Quente...
Frente ao teu corpo,
Bicho lindo,
Cheio de linhas
E direções
Lunáticas.

domingo, 19 de agosto de 2007

HOMENAGEM PÓSTUMA


Eu sou o que você ou ela ou ele não podem ser.
Sou a metralhadora que dispara e não mata
Ou que mata, quando precisa.
Em alguns dias sou o amor que você gostaria de ter.
Noutros, o que teve nem notou e,
ao longo dos meses, poderia ter tido de fato.
Sou como a serpente que só ataca quando sente
Ou que, à noite, distraída, deixa-se esmagar na estrada pelo carro que passa.
Alguns dias sou multiétnica e,
noutros, caucasiana.
Até pego emprestado os olhos verdes e quase cegos do meu pai.
Mas, sei, sou muita gente.
Não preciso de tapete vermelho para que cheguem até mim.
Luvas de pelica me bastam.
Arranque meu coração, mas não esqueça:
antes arrancarei a tua alma, se ainda a tiveres.
Tente viver longe de mim e, quando sentir falta,
escuta Cazuza e o assombro dos versos de quem ouve e confessa, ao ouvido,
teu e dos outros, "segredos de liquidificador".
Não me diga que sou pequena, pois a grandeza que possuo te dei de graça.
Cala! Não fala mais nada. Experimenta amargar o sal da terra,
A morte que está e não chega.
Não me escute. Ouve o passado que corrói os teus ossos.
Eu?
Eu sou feita de aço.
Inoxidável, caminho pelos campos que, antes verdes,
tornaram-se desertos intermináveis.
Cata tuas coisas e segue.
Vê o que te espera.
Mas vê de antevéspera,
porque depois não há como voltar.
E se quiser dizer Eu Te Amo para mim,
para ela ou para ele,
Grite isto para um pássaro que, em seu vôo sem destino,
Consiga, talvez, espalhar tal confissão como quem dita o próprio epitáfio.

PELÍCULA



E quando o filme parecia terminado
e as luzes apagadas
pude tocar os olhos da tua alma
e colar a boca sedenta
no teu espírito.
Estávamos sós?
Estávamos nós?
Fomos como o vento que passa assoberbado
levantando saias
e arrancando telhados
Ficar sem você
é como perder a visão do mar intenso...

Imagem: Internet

terça-feira, 7 de agosto de 2007

PERCEPÇÃO


De repente das estrelas murchas
que povoam o sol
ressaltam e brilham os olhos
aniquilados do papel.
E na vontade esquisita de rimar o mar,
parto para o caminho melado e
melodioso do mel.
Cantam sonsos
Os sonoros pássaros
Em uníssono
E notas de aço.
Chove no chão
E nas veias dos pés
Explodem bolhas de asfalto
E um barulho nato
Mata o mato de depois do amor.
Foges na fogueira
Íngreme e acinzentada dos sorrisos
E na fuga abstrata dos paraísos
Descobres cores e odores

Foto: Guido Danniele

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

REFLEXÃO DA ALMA


Nada estilhaça mais a alma que uma traição.
É como se nos partissem o espelho da essência.
E não há cola para juntar os pedaços.
Por isto, vira e mexe, um corte se abre e o sangue jorra atordoado.
Seja nos pensamentos. Seja nos pesadelos.
Fecho este ano com um lacre de dores indescritíveis.
Quase todas as que tive
Na esperança simples, inocente e quase comovente
De pretender ser feliz.
Aos que me traíram, desejo apenas que não o façam com outras pessoas.
Aos que mentiram anos a fio, deitados em minha cama,
Espero que outras camas lhe inspirem sentimentos mais nobres.
E, para todas as traições, espero que os corações de quem as pratiquem
Se tornem menos duros e mais delicados
Como flores nascidas na seca.
E para os filhos que rejeitam o amor dos pais,
Espero que um leve perfume de sensatez
Grude em seus espíritos
Como seiva de alfazema para abrandar tal engano.
Aos que me amaram de verdade,
Digo somente que os amei e amo mais e mais.
Aos inimigos, o meu sorriso.
Ao falso amigo (a) as minhas condolências,
Porque amigos assim se matam eles próprios,
Suicidas das suas más intenções.
No mais, digo apenas que seguirei buscando o melhor nas pessoas
Sem filtros para as mentiras
Porque não os possuo.
Enfim, sigo tentando recompor a vida,
Ainda que a alma sangre
E singre de mim de vez em quando
Porque sei que ela sempre volta,
Remendada, é certo, a me apontar novos jardins
E novos caminhos a serem tocados.