sexta-feira, 13 de julho de 2007

CARTA PERDIDA 2


Quando acordar do seu sono, saiba que ainda estou aqui. Não, eu não roubei o seu coração, como você disse ontem, em meio à bebida e quase com raiva disso. Eu estou dentro dele. Só isso. Não posso, infelizmente, roubar a mim mesma. As coisas andam difíceis, sei. Mas, ontem,
passei por cima dos ciúmes e ficamos, como devemos ficar, embriagados em nossas fantasias tão reais. No fundo, a dor de te ver partir de novo, ainda que eu tente transpor este sentimento para a poesia, é uma dor parecida como a de ver morrer alguém ou algo que amamos. Talvez aquele gatinho de rua que costumava se enroscar em mim.
Doma a tristeza. Atropela com o teu riso lindo a angústia. Pilar não reconhece o teu amor. Não agora. Até nós não reconhecemos o nosso. A vida é assim mesmo, cheia de ironia. Mas tem o Sol, a chuva, o nublar e a beleza revestida em tudo isso. Procura tirar a carga de culpa que você não tem. Vamos ver o mar, ouvir as ondas e você até pode deixar o olhar perdido no “vem cá, Neinho” das bundas alheias. É direito seu.
Gostaria de ser não a última, mas a primeira mulher da sua vida. Aquela pessoa que chega, fora da ordem, mas é a que buscávamos, sem saber, todo o tempo. Você é o primeiro homem da minha vida. O meu hímem foi tirado por você, com dedo, língua e amor. Eu sei que você me ama. Eu sinto. Queria que você me levasse daqui, me arrancasse desta prisão de ter que ir, agora, registrar ponto como se a minha vida girasse ao mesmo tempo do relógio. Queria dividir coisas boas com você, passar uma borracha nas ruins, te agarrar e fazer amor tantas vezes quanto desejasse, a qualquer hora da noite ou do dia. Uma espécie de prece que só o Deus interior de cada um pode ouvir e atender.
Amo seu cheiro, sua alegria e até estes seus olhinhos perdidos de “jesus cristinho”. Estou apaixonada e amando absolutamente ao mesmo tempo. Isso confunde, porque, dizem, a paixão chega e só depois o amor vem. Estou com as duas coisas coladas em mim e o meu coração dispara por você, minhas mãos ficam frias e eu morro de saudades, mesmo quando estamos grudados um ao outro. É paixão-amor antigos, mas que se renovam a cada instante e me inquietam. Às vezes, quando a razão é imperiosa, penso em ousar o ponto final. Só que as reticências que despencam dos meus olhos, a cada vez que te vejo, são soberanas. Dizer eu te amo é simples. Se diz muito, o tempo todo. Amar de verdade é o que altera os batimentos cardíacos e a ordem das coisas. Você é o meu amor. Único, porque não há nada igual, ainda que muitas coisas se pareçam com outras tantas. Não quero eternidade. Quero o tempo de poder estar com você.

13/05/2001

Nenhum comentário: