sexta-feira, 4 de junho de 2010

A QUASE MORTE DO AMOR


IZA CALBO

Parei de amar para não matar o amor
Deixei um algodão doce sobre o mármore da cozinha
Para que sentisses a minha partida como a um parque de domingo
Não fiz as malas. Não levei as coisas que eram minhas. Parti quieta
Quase como quem enlouquece no meio da noite e de si mesmo.
Não quis estragar o teu sorriso lindo com um quê estranho de espanto.
Toquei-te suavemente evitando que acordaste
Não quis que me visses dar as costas
Porque não era o pretendido.
Sinto ainda teus dentes alvos arrancando pedaços do meu corpo
E o teu jeito sereno de pedir carinho em meio ao pranto.
Parei de amar o amor que estava adoecendo
O amor que uma vez parou na porta do quarto
O amor que não chegamos a fazer.
Parei de amar o amor que levei embora e que guardo em mim
Como a um anjo desesperado com asas arrancadas sem prévio aviso.
Ao parar de amar o amor, parei de fingir não amar-te
E colei o amor casto, intocado, numa das estantes do meu ser sem sentido
E, assim, matando o amor que tanto amo,
Perdi o senso do que poderia amar além do amor quase morto.

IMAGEM: WEB

2 comentários:

... disse...

lâmina cortante, sua poesia transpassa todo sofrimento de uma alma conturbada, Iza – e continua a cortar, sangrar... fala mais, muito mais que as palavras – faz sentir, e desespera... gosto do jeito que você escreve, minha amiga, por que expressa, mais que o racional, o instinto das palavras indomáveis, e por isso mesmo indomadas...

beijo procê

Leila Machado disse...

Ohhh doces lembranças me trazem esse esse texto, de um amor que tive e vi pela janela do seu quarto bater asas e voar, um amor tão puro que não merecia habitar nem o meu e nem o peito dela, por isso ele se foi, mas ao ler essas palavras sinto toda a emoção que tive por ele de volta...

Lindo.