quarta-feira, 23 de junho de 2010


DO ENCANTO
Iza Calbo

“A maior besteira da vaidade está em achar que o outro se encontra desarmado. O encanto mata! " (IC)


Sorria do teu riso pela paz que ele me acenava
Tocava teus lábios porque neles via apenas alegria
Nunca imaginei que da tua boca ouviria palavras torpes,
Muito menos que o teu riso se desfaria em gritos alucinados.
Já não te reconheço
Já não te quero ver
Já não te quero mais
O tempo segue embaralhando as cartas do velho baralho
Mas já não temos mais como jogar
Não há nenhum ás escondido nas mangas
Muito menos a possibilidade de voltar à mesa do jantar
Catamos nossos cacos e não foi suficiente
Pedaços minúsculos da taça foram perdidos para sempre
E não temos como brindar nada em meio a tamanho desencantamento.
Estamos separados de corpos e de fato
Não mais nos abraçaremos repletos de saudades
E embriagados de nós mesmos
Seguimos, agora, em direções opostas
E eu já não preciso mais te olhar
Nem zelar por ti
Ganhaste o espaço de novo
E nos perdemos nesta imensidão
Que dobra a esquina sem olhar para trás
Não desperdice palavras
Nem tente bordar enfeites inexistentes
Até o passado vai ficando embaçado
E o teu riso, antes a marca da tua/nossa alegria
É agora uma lembrança perdida na neblina
Das esperanças sem acalanto.

Imagem: Fotomontagem/Net

Um comentário:

Leila Machado disse...

Forte! Tudo um dia se vai né?
Lembranças ficam como cicatrizes ou como feridas que nunca secam, mas de alguma forma sempre ficam...