quarta-feira, 26 de setembro de 2007

ETERNA CRIANÇA



Quando te ouvi desejando minha morte
lembrei das palavras doces que um dia
ajudaram a tecer o que era para ser uma história de amor.
Não tive raiva da sua raiva.
Achei engraçado, comovente até...
Você, o homem de nervos de aço,
tentando roubar a minha ternura de criança.
Tive pena.
Pena até daquela mulher invertebrada
que você agora diz amar
e sobre a qual sequer posso me pronunciar.
A menos, como o senhor impõe,
depois de lavar a boca com sabão.
Para falar de quem mesmo?
Não sujaria a minha alma.
Não preciso.
Falar nela sim, seria uma bobagem
Até porque,
depois não conseguiria mais sentir o sabor das coisas.
Fique com a fruta estragada por inteiro.
Pendure pôsters dela na parede
e olhe direito.
Olhe bastante.
Só assim talvez você veja que a morte lhe acompanha.
Sejam felizes em suas sepulturas
num pacato jazigo em Riachão do Jacuípe.
Morram entrelaçados.
Vocês merecem a podridão um do outro.
Mas da minha ternura,
se afaste.
Minha criança será sempre afável
e bela.
O tempo não me atravessa com lanças.
Apenas me embala.
Sintam inveja.
Enquanto as rugas sinalizam seus destinos,
Estarei sonhando e sorrindo.
Sou pequenina demais para o mundo
ocre e hóstil de criaturas como vocês.
Seres em série,
sem vontades próprias,
com o sangue ralo a passear pelas veias.
Esqueci de crescer e sou feliz.

Um comentário:

Leila Machado. disse...

Esse parece muito comigo, o finalzinho, qdo fala da criança que há em vc, me sinto assim desde o tempo que restou desde o meu nascimento ate hj e pelo visto até sempre! =)